BE e PCP recusaram "a espanholização" da banca portuguesa ou a entrega de capital "à família do poder angolano", com os bloquistas a defenderem que o sistema financeiro é um instrumento de soberania que não pode ser alienado.
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"As notícias que saíram nos últimos dias são preocupantes e é preciso dizer que em vez de procurar um equilíbrio entre o capital angolano e o capital espanhol, o Governo de Portugal tem de encontrar um equilíbrio e uma resposta para a estabilidade do sistema financeiro português e para garantir que nós temos o controle estratégico do sistema financeiro", defendeu a deputada do BE Mariana Mortágua, no plenário da Assembleia da República.
Falando em resposta a uma intervenção do deputado do PSD Carlos Costa Neves, que introduziu o tema da banca numa declaração política, Mariana Mortágua reconheceu a falta de soluções para o sistema bancário, lançando críticas não só à direita parlamentar, mas também ao "bloco central".
"Nós temos visto vezes demais gente do bloco central sentada nas administrações de bancos portugueses e angolanos, gente do PSD e do PS, sentada nos conselhos de administração de bancos e, por isso, não se pense que o problema da espanholização da banca se resolve não fazendo nada e deixando o mercado funcionar ou entregando a banca portuguesa à família do poder angolano", disse, frisando que o sistema financeiro é um bem público e um instrumento de soberania que "não pode ser alienado a capital angolano, nem a capital espanhol".
Pelo PCP, o deputado Paulo Sá repetiu uma das 'bandeiras' dos comunistas, insistindo na necessidade de existir um controle público da banca.
"O que é preciso é que o Estado assuma o controlo da banca, é preciso dar esse passo", preconizou.
Antes, o deputado do PSD Carlos Costa Neves tinha questionado o Governo sobre a eventual intenção de "desenhar ou redesenhar", "influenciar ou condicionar soluções" quanto à estrutura acionista da banca nacional, numa alusão à notícia divulgada este fim de semana segundo a qual o primeiro-ministro se encontrou com a empresária angolana Isabel dos Santos, para ultrapassar o impasse no BPI.
"Incumbe ao Governo e ao ministério das Finanças a responsabilidade máxima pela estabilidade financeira", contrapôs o deputado do PS João Galamba, assegurando que o executivo não irá demitir-se dessa responsabilidade.
"Não discutimos competência do ministério das Finanças, o que está em causa é os contribuintes saberem como é comprometido o seu dinheiro", replicou o deputado do CDS-PP João Almeida.
No período de declarações políticas, PS e CDS-PP escolheram a Educação para tema das suas intervenções, com os socialistas a saudarem o novo modelo de avaliação do ensino básico e recusarem as críticas da direita parlamentar ao "regime transitório" que dá a possibilidade das escolas decidirem se realizam ou não este ano provas de aferição e provas no 4.º e 6.º anos.
"O senhor ministro da Educação poderia ter escolhido o gradualismo. O gradualismo comporta a virtude de quem prudentemente promove de forma sustentada a mudança em que acredita. Mas preferiu o experimentalismo, resultado de um voluntariado improperado", acusou a deputada do CDS-PP Ana Rita Bessa, na sua declaração política, criticando a forma como o ministro ignorou os educadores, abandonou alunos e famílias e esqueceu a luta contra o insucesso escolar.
Os problemas que atravessam o setor leiteiro e a suinicultura foram os temas abordados pelo PCP na sua declaração política, enquanto o BE escolheu a questão da central nuclear de Almaraz, reiterando a urgência no seu encerramento, e o Partido ecologista Os Verdes falou sobre a poluição dos recursos hídricos.