Bruxelas prevê "recessão de proporções históricas" com contração de 7,7% do PIB
A Comissão Europeia estima que a economia da zona euro conheça, este ano, uma contração recorde de 7,7% do Produto Interno Bruto, como resultado da pandemia da covid-19, recuperando apenas parcialmente em 2021, com um crescimento de 6,3%.
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Como já era expectável, nestas Previsões Económicas da Primavera divulgadas esta quarta-feira, as primeiras a ter em conta o impacto da crise provocada pela pandemia, o executivo comunitário reviu em profunda baixa as anteriores projeções de crescimento, em cerca de nove pontos percentuais. E apontou que, "apesar da resposta rápida e abrangente, tanto a nível da União Europeia como nacional, a economia europeia vai experimentar uma recessão de proporções históricas este ano".
No anterior exercício de previsões macroeconómicas, em fevereiro passado - quando o novo coronavírus ainda parecia confinado à China -, Bruxelas antecipava que a zona euro crescesse 1,2% do PIB tanto no ano em curso como no próximo.
Três meses depois, a Comissão estima uma contração no espaço da moeda única que fica muito acima do daquela verificada no auge da anterior crise financeira - quando a zona euro contraiu 4,5% em 2009 -, e até da recente previsão do Fundo Monetário Internacional (7,5%), e alerta que "os riscos em torno desta previsão são também excecionalmente grandes e concentrados no lado negativo".
Como consequência do confinamento provocado pela pandemia da covid-19, que levou à paralisação de boa parte da economia europeia, Bruxelas estima também que a taxa de desemprego suba este ano para os 9,6% (face aos 7,5% registados em 2019), e recue apenas parcialmente para os 8,6% em 2021.
Como resultado das medidas orçamentais robustas adotadas pelos Estados-membros para apoiar a economia na atual crise, o executivo comunitário prevê, por outro lado, que o défice público na zona euro aumente de 0,6% do PIB em 2019 para 8,5% em 2020 (recuando para 3,5% em 2021), e que a dívida pública cresça dos 86% verificados em 2019 para 102,7% este ano, antes de abrandar para os 98,8% no próximo.
Bruxelas sublinha que, apesar de o choque na economia europeia ser simétrico, na medida em que atinge todos os Estados-membros, tanto a contração que se verificará este ano como a retoma que deverá ter lugar no próximo atinge os países de forma "marcadamente distinta", apontando que a recuperação dependerá "não só da evolução da pandemia em cada país, mas também da estrutura das suas economias e da sua capacidade de responder com políticas estabilizadoras".
"Dada a interdependência das economias da UE, a dinâmica de retoma em cada Estado-membro também afetará a força da recuperação de outros Estados-membros", aponta o executivo comunitário, que para o conjunto dos 27 Estados-membros da União antecipa uma contração de 7,4% do PIB.
A Comissão receia que mesmo no final de 2021 a economia europeia não tenha ainda recuperado totalmente das perdas deste ano, estimando um crescimento na área do euro de 6,3%, já que é expectável que o investimento permaneça moderado e o mercado de trabalho não tenha recuperado totalmente. E adverte que o quadro pode ser ainda mais sombrio.
"Uma pandemia mais grave e mais duradoura do que aquela atualmente prevista poderá provocar uma queda do PIB muito maior do que a antecipada no cenário de base desta previsão. Na ausência de uma estratégia de relançamento forte e atempada a nível da UE, existe o risco de a crise poder conduzir a graves distorções no mercado único e a divergências económicas, financeiras e sociais enraizadas entre os Estados-Membros da área do euro", alerta a Comissão.
Bruxelas aponta que "existe igualmente o risco de a pandemia poder desencadear mudanças mais drásticas e permanentes nas atitudes relativamente às cadeias de valor globais e à cooperação internacional, o que pesaria sobre a economia europeia, altamente aberta e interligada", além de que "pode também deixar cicatrizes permanentes devido a falências e danos duradouros para o mercado de trabalho".
"Nesta fase, só podemos traçar provisoriamente a escala e a gravidade do choque do coronavírus nas nossas economias. Embora as consequências imediatas sejam muito mais graves para a economia mundial do que a crise financeira, a profundidade do impacto dependerá da evolução da pandemia, da nossa capacidade de relançar com segurança a atividade económica e recuperar posteriormente", afirmou, num primeiro comentário a estas previsões, o vice-presidente executivo da Comissão Valdis Dombrovskis.