Elon Musk, com a sua saudação nazi e várias polémicas, abre via para a invasão oriental. Empresa americana em queda abrupta.
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A chinesa BYD já é o maior fabricante de veículos elétricos do Mundo há mais de um ano e veio a reforçar essa liderança aproveitando o mau momento da Tesla, de Elon Musk, que se vê a braços com uma grave crise de imagem. Mas como é que esta marca completamente desconhecida chegou ao topo da tecnologia? Em 2011, Elon Musk, entrevistado num canal de televisão, falaram-lhe sobre a BYD. O homem mais rico do planeta soltou uma gargalhada e a entrevistadora perguntou-lhe por que se ria. Elon Musk, em tom zombeteiro, respondeu com uma pergunta: "Já viu o carro deles?"
A verdade é que passados 13 anos, no final de 2023, a BYD ultrapassou a Tesla e tornou-se o fabricante número um de veículos elétricos do Mundo. Quem ri por último, ri melhor? Como é que um produtor de baterias para telemóveis de baixo custo se tornou líder na produção de automóveis elétricos?
Para já, é certo que veremos uma grande competição entre estas duas marcas nos próximos anos se, entretanto, Elon Musk não destruir a Tesla com as suas opções políticas, misturando-as com os negócios e com o apoio incondicional a Donald Trump. A sua liderança na DOGE, o departamento extra-oficial criado pelo presidente norte-americano em que deu plenos poderes a Musk para cortar despesa nos EUA, está a deixar uma marca de descontentamento entre os norte-americanos. Essa aversão está a ser transmitida para a Tesla, com manifestações contra a marca e tumultos junto dos seus stands, havendo já rumores de um possível afastamento de Musk da Casa Branca. Para trás ficam os diversos incidentes que desgastaram a sua imagem, desde a saudação fascista, de braço em riste, no dia de tomada de posse de Trump, até à sua ingerência política noutros países, como a ajuda que deu à extrema-direita alemã.
Na bolsa, a Telsa está a ser um desatre total, com as ações da empresa a caírem mais de 40% face ao pico de valorização de 17 de dezembro. Nem com a campanha publicitária de Trump e os repetidos esforços de promoção da marca pela Administração do presidente do EUA, a Tesla está a conseguir sair do lodo em que Elon Musk colocou a empresa.
Tesla em queda desde dezembro
Na Europa, as vendas da Tesla caíram 49% até fevereiro e, em Portugal, nos primeiros três meses do ano, a queda foi de 25%. Já a chinesa BYD, no mesmo período, aumentou 206% em Portugal e 94% na Europa.
Felipe Muñoz, analista da consultora JATO Dynamics explica que a Tesla “está a passar por um período de imensa mudança. Para além do papel cada vez mais ativo de Elon Musk na política e da crescente concorrência que está a enfrentar no mercado, a marca está a eliminar a versão existente do Model Y – o seu veículo mais vendido – em antecipação da introdução de uma nova versão atualizada”.
O anúncio de Donald Trump de taxar em 25% todos os automóveis importados pelos EUA bem como os seus componentes, será uma forma de proteger as marcas norte-americanas, entre as quais a Tesla, no mercado doméstico, mas pode vir a prejudicar a expansão da marca de Elon Musk no Mundo, já que os países mais afetados por esta guerra de tarifas estão a preparar uma resposta ao presidente norte-americano. Muito provavelmente, os Tesla produzidos em solo norte-americano e vendidos no exterior passarão a ser mais caros.
Ou seja, as dificuldades que a Tesla enfrenta atualmente criaram oportunidades para alguns dos seus concorrentes, entre os quais a líder BYD. Em fevereiro, as marcas de automóveis de propriedade chinesa registaram 19 800 novos veículos elétricos na Europa, ultrapassando a Tesla, que registou pouco mais de 15 700 unidades.
Bateria é a parte mais cara
A bateria é a parte mais cara do carro. Cerca de 40% do custo de um carro elétrico é a bateria e se elas forem inovadoras, há uma grande vantagem na construção e no preço dos carros elétricos.
A BYD está de olho nos mercados globais, especialmente na Europa, onde já tem uma panóplia de modelos. Não foi coincidência a BYD ter sido patrocinadora oficial de veículos elétricos do Euro 2024, o campeonato europeu de futebol jogado na Alemanha, o coração da indústria automóvel no continente. Aliás, este passo pode ter sido mais um prego no caixão da indústria automóvel europeia, que sempre conseguiu impedir a entrada dos chineses em matéria de motores de combustão, mas que agora se vê numa situação complicada, uma vez que está dependente tecnologicamente dos produtores de baterias e da China para fabricar os seus modelos elétricos, saindo mais caros na produção e no preço ao público.
A Volkswagen e outras marcas europeias, alemãs, francesas e italianas, estão a responder a esta invasão chinesa o melhor que podem tentando fazer lóbi na Comissão Europeia para aumentar as taxas alfandegárias dos carros elétricos chineses, o que conseguiram parcialmente. Estão também a tentar criar uma indústria europeia descarbonizada, desde a mineração de lítio até à produção de carros. É aqui que Portugal terá um forte papel a desempenhar por ter uma das maiores reservas de lítio na Europa e de ir construir, na Autoeuropa, o Volkswagen elétrico mais barato da marca alemã, uma forma de tentar combater a invasão das marcas chinesas na Europa.
Novas fábricas na Europa
Para contornar as tarifas, a BYD quer construir três fábricas para abastecer o mercado europeu: Hungria, Alemanha e Turquia, tornando-se a primeira empresa chinesa a produzir automóveis na Europa, embora os chineses já estejam no mercado há mais tempo como acionistas de marcas tradicionais, como é o caso da Volvo, detida por bilionário chinês Li Shufu, também dono da Geely, e da lendária britânica MG, agora detida pela chinesa SAIC Motor.
Entretanto, a BYD já está em 15 países europeus em apenas pouco mais de ano e meio. A ascensão dos veículos elétricos chineses e da própria BYD deve-se, em grande parte, ao impulso do governo chinês. A indústria dos veículos elétricos tem gozado de enormes incentivos fiscais, que os faz tornar mais baratos e por isso a União Europeia respondeu com um aumento das tarifas de importação. Aliás, esta subsidiação levou ao domínio da BYD no mercado interno, com uma quota de mercado de 35% na China, em comparação com os 7,8% da Tesla nos Estados Unidos.
Tensões entre a China e EUA
As tensões entre a China e os EUA fizeram com que a BYD adotasse uma abordagem menos agressiva para entrar neste território, embora já tenha fábricas no México. E agora com Donald Trump, o desafio afigura-se um trabalho hercúleo. Para a BYD, sem construir fábricas e ter uma base de fornecedores nos Estados Unidos, será muito difícil terem sucesso. Embora forneçam autocarros elétricos para os EUA há anos, a BYD não entrou no mercado automóvel. E parece que vai continuar assim por enquanto, uma vez que os Estados Unidos impõem atualmente uma tarifa de 27,5% sobre as importações automóveis da China.
Como está a tentar responder a Tesla? Através do tão falado modelo de baixo custo como resposta aos veículos elétricos baratos que inundaram o mercado vindos da China. É muito importante para a Tesla oferecer também um automóvel num segmento mais pequeno começando, por exemplo, nos 20 mil euros. Há rumores de que, já este ano, possa haver novidades de um possível Tesla Model 2.
Estamos a assistir ao surgimento de uma guerra de preços de veículos elétricos nos mercados globais, à medida que as marcas tradicionais respondem a estas novas marcas. Pode até ser bom para os consumidores, mas o clima geopolítico significa que este caminho não será pacífico.