Cipriotas indignados com impostos sobre depósitos tentam sem sucesso levantar dinheiro
Empresários e depositantes cipriotas continuavam este sábado a tentar retirar dinheiro das caixas de levantamento automático de dinheiro após o anúncio do plano de resgate ao país.
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"É um roubo", afirmou Kyriakos, um artista cipriota que acabava de levantar todo o dinheiro que pode retirar através de uma caixa multibanco para minimizar o risco de tributação do montante que tem na conta bancária e que vai ser "sujeito a impostos pelo plano selvagem da Europa".
"Eu ganhei este dinheiro que agora fica retido para poder pagar os erros que eles cometeram", acrescentou Kryiakos que se encontra na companhia de dois amigos que tal como ele vão tentar levantar o máximo de dinheiro que podem retirar da caixa automática numa rua de Nisósia.
"Estamos a tentar retirar o máximo de dinheiro, mas não está a resultar muito bem. Não sabemos se as contas estão bloqueadas ou se as máquinas já estão vazias", acrescentou Joseph, bancário.
"Ninguém esperava isto e os bancos não estão ao corrente de nada", segundo o mesmo cipriota entrevistado pela France Press na capital do Chipre.
O acordo alcançado esta madrugada pelos ministros da Economia e Finanças da Zona Euro para o resgate ao Chipre, vai implicar, entre outras medidas, aumento dos impostos sobre os depósitos.
Após nove meses de negociações, os ministros da Zona Euro acordaram a ajuda, mas vão impor condições aos depositantes.
Os depósitos com mais de 100.000 euros irão pagar um imposto extraordinário de 9.9% que cai para 6,7% no caso das quantias depositadas serem inferiores, enquanto as empresas terão a sua carga fiscal agravada até 12,5%.
Hoje, após as primeiras notícias do plano de resgate, começaram a formar-se filas junto às agências bancárias de Nicósia com caixas multibanco, até porque os bancos só reabrem ao público na terça-feira por ser feriado no dia 18 de março no Chipre.
"Tentei fazer transferências esta manhã e não fui bem sucedido", disse à France Press um empresário francês residente no Chipre.
"Vou tentar levantar tudo o que possa", acrescentou o francês depois de ter conseguido levantar dois mil euros de uma caixa automática de levantamento de dinheiro.
Apesar dos levantamentos de dinheiro que já estão a ser efetuados pelos depositantes é impossível "escoar as contas" através das máquinas multibanco porque os montantes que correspondem ao imposto já estão a ser aplicados neste tipo de levantamentos, assim como foram bloqueadas transferências a partir de determinado montante, explicou Marios Skandalis, vice-presidente do Instituto das Contas Públicas do Chipre.
"É catastrófico", diz um empresário belga que estima perder 15 mil euros se a medida sobre os depósitos bancários for aplicada, acrescentando que se as restantes medidas sobre as empresas também forem levadas a cabo entra em "falência imediata".
Um cidadão alemão residente em Nicósia diz que as medidas "são injustas e já atingem as famílias".
"Já perdi o meu trabalho, o que recebo da segurança social não é suficiente para manter uma família e agora ainda vai ser pior", afirmou.
"Estou espantado porque as pessoas aqui não se manifestam como na Grécia", disse ainda o cidadão alemão.
O presidente do Chipre, Nicos Anastasiades, anunciou hoje que vai dirigir-se ao país no domingo sobre o resgate financeiro da União Europeia que evitou o colapso do sistema bancário cipriota.