Os cofres da República Portuguesa nunca estiveram tão cheios como agora. Segundo dados oficiais do Banco de Portugal, o montante em reserva de numerário e depósitos das Administrações Públicas já ultrapassa os 20,7 mil milhões de euros (final de julho).
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Significa que, desde que entrou em funções, o atual Governo reforçou a almofada de segurança em 11% ou mais 2,1 mil milhões de euros.
Os cofres cheios vieram para ficar? Muito provavelmente, não. É que neste ano há muito onde gastar dinheiro: na capitalização da CGD (que vai comprometer 4,2 mil milhões de euros de verbas dos contribuintes, sendo que 2,7 mil milhões terão de estar disponíveis para uma injeção direta de capital) e noutras operações de grande calibre, como o pagamento antecipado ao FMI (6,6 mil milhões) ou a amortização de uma Obrigação do Tesouro que vem do tempo do antigo primeiro-ministro José Sócrates, que vence a 15 de outubro (4,1 mil milhões de euros).
Esta estratégia de acumular dinheiro nos cofres tem sido amplamente usada desde que Portugal foi submetido ao programa de resgate e austeridade.
Primeiro, entre 2011 e 2014, porque o país ficou sem acesso aos mercados de dívida e precisava de mostrar aos credores que tinha autonomia financeira para "andar pelo próprio pé" mesmo com condições de financiamento fossem hostis. A ideia tem sido sempre financiar boa parte do ano seguinte.
Foi a antecessora de Mário Centeno no cargo, a ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, que popularizou, pela primeira vez, este instrumento, numa altura (2015) em que Portugal já procurava solidificar a sua chamada "saída limpa" do resgate. Em março desse ano, a vice-presidente do PSD dizia que o país tinha os "cofres cheios" para honrar os seus compromissos na eventualidade de surgirem perturbações no funcionamento do mercado.
Só para se ter uma ideia, os cofres (Estado e todas as restantes tesourarias públicas) estão hoje ainda mais cheios do que no tempo de Maria Luís. Têm mais 3,7 mil milhões de euros (julho) do que em março do ano passado, ou seja, mais 22%. Se olharmos apenas para o Estado, os cofres que Centeno controla diretamente estão mais depauperados, de facto. Mas, até final do ano, o plano é ir buscar ao mercado mais 4 mil milhões de euros através de leilões OT, reforçando o Tesouro.