Comité Científico da Mercadona está atento a todas as áreas de investigação alimentares e não alimentares.
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O ato de comer tem muito mais que se lhe diga do que aparenta. Raramente questionamos aquilo que temos no prato, mas o certo é que por detrás da simples garfada que metemos à boca existem inúmeras preocupações dos profissionais de segurança alimentar.
Comer pode até ser perigoso, quando acrescentamos à equação questões alérgicas, ou interações de todo o tipo que podem influenciar o tempo de vida útil de um determinado alimento, ou alterar as suas características. Dos microrganismos que desafiam a indústria alimentar, a todos os aspetos a ter em conta na cadeia de montagem, desde o fornecedor ao embalamento, passando pelo distribuidor, até chegar a casa dos consumidores, são inúmeras as questões que se levantam.
Estes foram os principais temas abordados esta quinta-feira no 3.º encontro do Comité Científico da Mercadona (CCM), que decorreu em Vila Nova de Gaia, na sede da empresa de distribuição alimentar. Aos sete investigadores portugueses do CCM de Portugal, criado em 2022, juntaram-se vários especialistas espanhóis por videoconferência para debater “os ciclos das novas tendências em segurança alimentar”.
Juan José Badiola, presidente do Comité Científico da Mercadona (CCM) em Espanha, Catedrático de Saúde Animal da Faculdade de Veterinária da Universidade de Saragoça, esteve em Portugal para assistir aos debates, que contaram também com a participação de especialistas de entidades reguladoras na área da saúde alimentar na distribuição.
Como facilmente se depreende, num Mundo em que as preocupações ambientais e a gestão de recursos são mais importantes do que nunca. As embalagens tecnologicamente mais avançadas, decisivas para a conservação e prolongamento do tempo útil de vida de um determinado produto, as questões que se levantam com os alimentos frescos, ou prontos a comer, quando envolvem riscos alergénicos também foram discutidos.
As alergias alimentares e tudo aquilo que interfere na sua prevenção, desde os métodos de medição de todo o tipo de substancias, à harmonização de valores de referência que possam ser controlados para proteger o consumidor também entraram em linha de conta.
Aposta em embalagens recicláveis, sustentáveis e inteligentes são objetivo
Conjugar a segurança alimentar com a sustentabilidade é uma meta europeia, que tem colocado inúmeros desafios à indústria embaladora, que vem procurando materiais novos, ou trabalhando em circuitos em que o material reciclado volte à cadeia para ser reutilizável. “Já existem algumas embalagens ativas e inteligentes. As esponjas das embalagens de carne, por exemplo, são uma parte ativa da embalagem, porque absorvem o que a carne liberta e isso não só ajuda a prolongar o tempo útil do produto, como a conservá-lo em melhores condições”, explicou Fernanda Vilarinho, membro do Comité Consultivo.
A Mercadona tem procurado estratégias para conservar alimentos em embalagens que os protejam e permitam prolongar os seus tempos de validade e reduzir o desperdício alimentar. Para completar o quadro, a colaboração com a indústria embaladora tem procurado conjugar boas práticas alimentares com o estilo de vida dos consumidores, que raramente se apercebem da forma como tratam os alimentos depois de os adquirir. Por exemplo: lavar a carne antes de consumir, o que até é um perigo maior. A falta de literacia alimentar obriga a aprender a comunicar com os clientes.
Rotulagem clara e fidedigna para reforçar confiança do consumidor
Estima-se que 10 por cento da população mundial sofra de alergias alimentares e que a tendência é para que o número continue a aumentar. As alergias são cada vez mais persistentes e são inúmeras as variáveis que interferem neste quadro. “Os regulamentos dizem que há 14 substâncias que podem provocar alergia ou intolerância e que têm de ser rotuladas. Não podemos deixar o consumidor na dúvida, pelo que a rotulagem tem de ser cada vez mais eficaz e mais confiável”, explicou Inês Pádua, uma das especialistas do Comité Científico da Mercadona (CCM).
Duarte Torres, membro do CCM, aponta o consumo de alimentos processados como outro fator que contribui para o crescimento das alergias alimentares: “Portugal consome cerca de 20 por cento de calorias em alimentos processados, enquanto em Inglaterra e Estados Unidos esses valores ultrapassam os 40 por cento. Consumimos poucas fibras, ou seja, vegetais e cereais integrais e este cenário também contribui para esse aumento”.
"Para a Mercadona é importante estar um passo à frente”
Leonor Fernandes lidera o Comité Científico da Mercadona (CCM) de Portugal e garantiu que a investigação que se tem feito em matéria de segurança alimentar coloca a empresa de distribuição um passo à frente na indústria alimentar.
É importante a Mercadona estar um passo à frente na investigação que vem desenvolvendo no capítulo da segurança alimentar?
Normalmente, tudo corre bem, mas quando não corre é fundamental contar com este apoio do nosso Comité Científico e dos seus profissionais. São especialistas em temas diferentes e dão-nos apoio técnico em toda a cadeia de distribuição. Nesta área precisamos de estar sempre atentos. É importante estarmos um passo à frente na distribuição para estarmos preparados, quando as coisas chegarem até nós. Não podemos estar à espera que aconteça uma crise de segurança alimentar para estarmos preparados. O comité surgiu, precisamente, da preocupação que temos com a segurança alimentar dos nossos produtos.
Tendo em conta a dificuldade em harmonizar uma série de questões e de normas, há a preocupação da parte da Mercadona em privilegiar os produtos locais?
Em Portugal tentamos ser portugueses e privilegiamos os fornecedores portugueses. Mas obviamente isso nem sempre é possível. Como vivemos na União Europeia, tudo o que vendemos tem de estar de acordo com a legislação europeia e portuguesa. Portanto, não há a mínima abertura para falhas.
Em relação às questões levantadas pelas alergias, de que forma é que a Mercadona tenta proteger os seus consumidores?
É um tema muito sensível por causa da discrepância que existe entre pessoas alérgicas. Ao mesmo produto, uma pessoa pode ter uma reação e outra pessoa pode ter outra. Aquilo que fazemos é informar o consumidor se o produto tem ou não tem um alergénio e quando falamos de alergénio são aqueles que somos obrigados a declarar. Não temos dúvidas: preferimos informar o nosso consumidor, mesmo que sejam vestígios. Mas os nossos consumidores podem ficar descansados, porque vendemos produtos seguros e a formação do nosso comité serve para prevenir e para que os nossos clientes continuem a confiar em nós.v