Desequilíbrio comercial afeta as exportações e põe em risco as empresas nacionais. Na Europa, 85% da roupa tem proveniência asiática.
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O desequilíbrio das relações comerciais entre a Europa e a Ásia é a principal ameaça à indústria têxtil e, particularmente, do vestuário em Portugal. As exportações de maio do têxtil e vestuário foram "empurradas" para baixo por causa do vestuário de tecido, nomeadamente do formal, muito por causa dos preços da concorrência asiática.
No comércio online, é fácil encontrar peças de roupa asiáticas cujos preços estão muito abaixo daqueles que a produção nacional consegue atingir. Há, por exemplo, blazers a 15 euros cuja proveniência suscita dúvidas ao setor. Não se conhecem as condições laborais de quem produziu essas peças, há desconfiança sobre o compromisso ambiental das empresas produtoras e até se suspeita de dumping (prática de preços abaixo do valor justo que visa eliminar a concorrência).
"Não se admite que na Europa 85% de toda a roupa consumida tenha proveniência asiática", lamenta César Araújo, presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC). A associação denunciou estas práticas à Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia, numa reunião com representantes dos 27 estados-membros.
Dependência
A indústria têxtil tinha 136 mil trabalhadores em 2019, dos quais 89 mil ligados ao vestuário, segundo dados do CENIT e INE.
Atualmente, a indústria europeia é fortemente dependente do mercado interno. A maioria do que se produz é exportado para outros países da Europa, o que significa que a subida do mercado asiático pode destruir a cadeia de produção europeia e, com ela, a de Portugal. No entanto, é isso que está a acontecer, adianta o presidente da ANIVEC: "Existe um conjunto de empresas oportunistas que estão a explorar o mercado europeu porque a Europa não quer ver e tem que rapidamente pôr fim a esta concorrência selvagem".
As consequências deste desequilíbrio estão patentes nos números das exportações de maio, os últimos divulgados pelo INE. A maioria dos subsetores da indústria do têxtil e vestuário de Portugal está a recuperar, contudo o vestuário formal continua longe dos valores de 2019, pois exportou 58,4 milhões contra os 84,7 milhões do ano anterior à pandemia. A falência da Dielmar, com 300 trabalhadores, é outro sinal, pois embora a empresa tenha tido prejuízos durante dez anos, são as mais frágeis que perecem primeiro.
Outro fator impeditivo da recuperação é o facto de o conceito europeu de pequena e média empresa não ter em conta o volume de faturação, apenas dos trabalhadores, para efeitos de apoios. Uma empresa com muitos trabalhadores que fatura pouco acaba por sair prejudicada.
Norte lidera produção
Segundo a ANIVEC, o Norte produz 68% dos produtos têxteis nacionais e 78% dos produtos de vestuário. Há mais de 12 mil empresas, 99,8% com menos de 250 trabalhadores.
Desequilíbrio asiático
Em 2018, segundo dados da ANIVEC, a Ásia exportou 94,3 mil milhões de dólares em produtos de têxtil e vestuário para a Europa, mas só recebeu 9,7 mil milhões.