O primeiro-ministro, António Costa, disse esta segunda-feira esperar que seja possível "restabelecer a boa tradição" na Autoeuropa, uma "empresa modelo, onde o diálogo social sempre tem permitido ultrapassar problemas laborais".
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"A esperança que nós temos, o incentivo que temos dado a todas as partes, é que na Autoeuropa seja possível restabelecer a boa tradição que tem sido, aliás, uma imagem de marca da própria Autoeuropa como uma empresa modelo onde o diálogo social sempre tem permitido ultrapassar problemas laborais e onde tem contribuído muito para a melhoria da competitividade da empresa e para a qualidade do trabalho e da situação laboral" desta, afirmou António Costa.
O primeiro-ministro falava aos jornalistas, em Leiria, onde assistiu à conferência Mobinov (Associação do Cluster Automóvel - uma iniciativa conjunta da Associação Automóvel de Portugal e da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel), sobre a relevância e tendências de futuro da indústria automóvel.
À pergunta se os trabalhadores da fábrica automóvel sediada em Palmela, distrito de Setúbal, poderiam estar a dar uma má imagem do país para atrair um novo construtor, o chefe do executivo respondeu: "Não estou a falar de uma parte ou de outra, estou a dizer que no conjunto é essencial que uma empresa, que, aliás, afirmou como uma das suas principais imagens de marca a excelência do seu diálogo social, continue essa excelência de diálogo social e a produzir bons resultados, que têm sido bons para a empresa e para os trabalhadores".
Antes, António Costa realçou a importância do setor automóvel para o país, notando que tem "um peso muito grande nas exportações", sendo que a ambição que o país deve ter é fixar as empresas que existem, assim como "atrair novos construtores para Portugal".
"Para que isso aconteça é essencial que continuemos a ter uma imagem de excelência no exterior, na nossa capacidade científica, tecnológica, da qualidade única da nossa mão-de-obra, da qualidade das nossas empresas, da capacidade que temos de cumprir os prazos e as condições de produção de uma indústria que é muito exigente", adiantou.
A este propósito acrescentou: "No momento em que queremos atrair um novo construtor, ter problemas em alguns dos construtores que já temos, obviamente não seria uma boa solução".
Já na conferência, que encerrou, António Costa referiu que a "forma como centenas de empresas portuguesas que participam nesta fileira se envolvem e desempenham a sua atividade tem uma importância absolutamente crítica". "Porque problemas em qualquer uma das construtoras ou uma má imagem criada por qualquer uma das empresas fornecedoras é o pior contributo que podemos dar para a ambição coletiva que temos de atrair um novo construtor", considerou.
Depois da rejeição pelos trabalhadores de dois pré-acordos sobre os novos horários negociados previamente com os representantes da Comissão de Trabalhadores, a administração da Autoeuropa anunciou a imposição de um novo horário transitório, para vigorar no primeiro semestre de 2018, e a intenção de dialogar com a Comissão de Trabalhadores (CT) no que respeita ao horário de laboração contínua, que deverá ser implementado em agosto, depois do período de férias.
O novo horário transitório, que entra em vigor nos últimos dias deste mês, com 17 turnos semanais, prevê o pagamento dos sábados a 100%, equivalente ao pagamento como trabalho extraordinário, acrescidos de mais 25%, caso sejam cumpridos os objetivos de produção trimestrais.
Os trabalhadores da Autoeuropa aprovaram em dezembro uma proposta para uma greve de dois dias, a 2 e 3 de fevereiro. A CT e a administração têm novas reuniões sobre os novos horários marcadas para esta semana.
António Costa defende "maior atenção" das políticas públicas para o setor automóvel
"O 'cluster' automóvel é fundamental para o futuro da economia portuguesa", pelo que "tem que ter a maior atenção por parte das políticas públicas", defendeu o primeiro-ministro.
A este propósito, António Costa destacou a diversidade do setor pela "capacidade que tem de gerar emprego qualificado, de dinamizar o número de setores económicos, de contribuir para o aumento das exportações e por ser um incentivo importante para o desenvolvimento da capacidade de inovação, desenvolvimento e conhecimento em Portugal".
Constatando que se trata de uma área que "carece de investimento", o governante defendeu que "a primeira política pública que é essencial casar com o setor" é a que se destina a "criar boas condições para o investimento". Uma das condições "passa por manter uma boa estabilidade dos equilíbrios macroeconómicos, para que o conjunto das condições de financiamento possam continuar a melhorar" se venha a repercutir "nas condições de financiamento do conjunto da economia", sublinhou.
Para o chefe do executivo, a "mais-valia deste setor" é, em primeiro lugar, "a capacidade de gerar cadeia de valor e proceder à integração dessa cadeia", exemplificando com o "aumento da produção das componentes", que "tem sido mais significativo que os próprios números de veículos produzidos em Portugal".
O primeiro-ministro adiantou que esta realidade evidencia que esta indústria "não está só a produzir para os construtores que constroem em Portugal, mas está também crescentemente a produzir para construtores que estão fora", apontando os desafios.
"A automação e a robótica vão introduzir desafios importantes no mercado de trabalho. Seguramente que os novos paradigmas de mobilidade vão alterar e desafiar a forma como a indústria se organiza e não é por acaso que um grande construtor internacional veio abrir em Portugal um centro de desenvolvimento da fileira dos serviços", acrescentou António Costa.
O chefe do executivo afirmou que alguns dos "grandes desafios" são dirigidos "à produção de conhecimento, perante as exigências da pegada ecológica, à melhoria dos níveis de segurança e da conectividade" e apelam "ao esforço de investigação e desenvolvimento". Estes desafios "não são para enfrentar com receio", mas para haver consciência deles "para superar esses desafios".
Revelando que Portugal tem que começar a olhar para 2030, António Costa afirmou que a estratégia já começou a ser discutida, defendendo um plano que assenta em dois "eixos fundamentais, a aposta na inovação e na qualificação dos recursos humanos".
Outras políticas públicas que destacou foram ao nível das infraestruturas de Portugal, que precisam de ser "reforçadas" para o país "poder ser mais competitivo no mercado externo e mais coeso mercado interno". Costa apontou, a este respeito, a "execução dos dois corredores ferroviários de ligação à Europa", o corredor que liga Aveiro a Vilar Formoso e o corredor sul, de Sines ao Caia.
António Costa destacou também a importância doutros troços ferroviários, como a ligação à Galiza, "tendo em conta a importância muito significativa desse corredor para alimentar a indústria automóvel aí sedeada", assim como a vertente portuária, "onde os investimentos, quer em Sines, quer em Leixões, quer em Lisboa são capitais para poder assegurar a boa internacionalização deste setor de atividade."