Governo espera um défice anual de 7,3% do PIB neste ano. No 4.º trimestre vai disparar até 14% ou mais. Maior só no tempo de José Sócrates, em 2010.
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O défice público do último trimestre deste ano medido em proporção do produto interno bruto (PIB) deverá registar o segundo valor mais alto dos registos oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE) que envia este indicador para ser avaliado em Bruxelas.
De acordo com cálculos do JN/Dinheiro Vivo, o défice do 4.º trimestre deve ultrapassar os 14% do PIB, valor que é consistente com um défice anual de 7,3%, como estimam o Ministério das Finanças, a Comissão Europeia e a OCDE.
O INE revelou na quarta-feira que, por causa da crise pandémica, o rácio do défice público disparou para uns expressivos 10,5% do PIB no 2.º trimestre, período amplamente marcado pelo primeiro confinamento.
Depois veio o verão, a situação sanitária aliviou um pouco, algumas medidas de apoio terminaram (a partir de julho o Governo descontinuou uma das mais caras, o regime de lay-off simplificado, por exemplo), alguns setores, embora ainda muito marcados pela crise, conseguiram reverter algumas perdas.
Isto acabou por refletir-se no défice de julho a setembro, que baixou de forma pronunciada, tendo ficado num valor equivalente a 3,8% do PIB.
Sinais de nova recessão
Em termos acumulados, o défice de janeiro a setembro já ia em 4,9%. No entanto, a situação do último trimestre do ano, que termina na semana que vem, deverá ser muito mais desfavorável do que nos trimestres precedentes.
Já há sinais e avisos de especialistas e instituições de que a economia está a caminho de uma segunda recessão por causa da segunda vaga da covid-19, que se formou depois do verão e com enorme intensidade. Neste 4.º trimestre, o turismo voltou a travar a fundo e a ficar interrompido, várias atividades voltaram a defrontar-se com medidas duras de confinamento e com vários fins de semana de recolher obrigatório.
Tendo em conta o alto risco de a pandemia voltar a embater na economia, o Governo, no Orçamento do Estado de 2021, já disse estar à espera de um défice anual na ordem dos 7,3% do PIB em 2020. Como referido, significa que nos últimos três meses deste ano, o desequilíbrio das contas públicas portuguesas terá de ser 14% ou mais.
Será o segundo maior défice trimestral das séries oficiais do INE. O valor mais negativo aconteceu no final de 2010 (Governo de José Sócrates): 19%. Nessa altura, já o país caminhava a passos largos para a bancarrota, que depois ditaria a entrada da troika e um programa de ajustamento e de desvalorização da economia gerido pelo Governo do PSD-CDS.
Rendimento disponível subiu 73€
Os meses de verão assistiram a uma recuperação no rendimento disponível das famílias, que se traduziu em mais 73€ por português, ou cerca de 0,5%, face aos rendimentos destas no final do 2.º trimestre, segundo cálculos do JN/DV, com base em dados do INE. No final de setembro, o rendimento disponível bruto ajustado por per capita ao longo de um ano alcançava os 16 300€. Em resultado, a taxa de poupança das famílias (percentagem de rendimento que fica após o consumo) tornou a subir no 3.º trimestre para ficar em 10,8%, mais três décimas que no 2.º trimestre.