É o preço a pagar para substituir os 5633 autocarros em operação no país por veículos não poluentes.
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É possível descarbonizar o transporte público rodoviário urbano em Portugal em 14 anos, com um custo total de 2,6 mil milhões de euros. Metade deste valor corresponde ao gasto normal de renovação da frota com a compra de veículos convencionais, a combustão, o que significa que o custo efetivo da descarbonização seria de 1,3 mil milhões, distribuídos ao longo dos 14 anos. Durante este período seriam evitadas quatro milhões de toneladas de emissões de CO2. As conclusões são do estudo "CleanBusPT", da Fundação Mestre Casais, que defende que o Estado contribua com 770 milhões, correspondente a 65% desta parcela. "São condições perfeitamente suportáveis para o Estado português e para os operadores", defende José Gomes Mendes, um dos autores e ex-secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade.
O trabalho, realizado em parceria com Paulo Ribeiro, professor da Universidade do Minho, começa por caracterizar o setor do transporte público rodoviário urbano, concluindo que existem hoje 5633 veículos em operação, com uma idade média de 16 anos, 24% dos autocarros em serviço têm mais de 21 anos. Há alguns com 35 e 36 anos.
O estudo, a que o JN/Dinheiro Vivo teve acesso, parte da realidade a 31 de dezembro de 2020 e traça uma trajetória de abate e substituição que pretende assegurar uma completa descarbonização ao fim de 14 anos, fazendo com que a idade máxima dos veículos seja, então, de 14 anos. O objetivo é substituir todos os veículos a diesel e a gás por autocarros elétricos. No caso dos veículos articulados, aqueles que têm capacidade para transportar mais de 105 passageiros, está prevista a sua substituição por veículos a hidrogénio.
O programa de abate seguiria uma lógica de antiguidade, começando pelos veículos com mais de 21 anos, sendo que, a partir do oitavo ano e até ao 14.º, são abatidos progressivamente todos os autocarros com mais de 14 anos. A idade média dos veículos desceria dos 15,9 anos em 2020 até um mínimo de 4,3 anos em 2026, situando-se nos 9,9 anos em 2034.
Os 5633 autocarros seriam substituídos por 4675 veículos elétricos a bateria (83% do total) e 958 seriam elétricos a hidrogénio. Cerca de 68% das substituições ocorreriam nos primeiros cinco anos do programa de abate, o que teria efeito imediato ao nível das emissões. Após os cinco primeiros anos de investimento, o estudo estima que as emissões anuais de CO2 seriam reduzidas em 87%, as de óxido de azoto (NOx) em 97% e as de partículas em suspensão de 99%. No total dos 14 anos - prazo a partir do qual as emissões de gases de efeito de estufa seriam nulas -, seriam evitadas 4,1 milhões de toneladas de emissões de CO2, as quais teriam um valor de referência de 417 milhões de euros.
Recomendações
O trabalho deixa 11 recomendações, a maioria ao Governo. Destaque para a proposta de proibição da venda, já a partir deste ano, de novos autocarros a combustão. "É, porventura, a proposta mais radical, mas é necessária. O esforço de descarbonização não é uma ideia do Governo, é uma necessidade do país e de todos nós. Não faz sentido definirmos uma trajetória de eliminação de veículos de combustão interna e permitirmos, ao mesmo tempo, a entrada de novos. Além do mais, já temos uma indústria de produção de autocarros elétricos madura em Portugal", diz Gomes Mendes.
O custo acrescido para a renovação das frotas de autocarros com veículos não poluentes seria de 1,3 mil milhões de euros em 14 anos.
Estudo considera que o Estado poderia comparticipar o investimento exigido para descarbonizar o transporte público em 770 milhões de euros.
Dos autocarros em operação, a grande maioria - 5107 - são veículos a diesel. A gás existem 471 e elétricos são apenas 55, nove dos quais minibus.