Só no mês de julho, as compras em grandes superfícies alimentares aumentaram 8%. O comércio online abrandou, mas há categorias que conquistaram os consumidores.
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O desconfinamento trouxe um aumento do consumo nos super e hipermercados. Em julho, compras de 14,3 mil milhões de euros significaram mais mil milhões que em julho de 2020 (8%). Os portugueses estão a comprar mais, levam produtos diferentes, mas há hábitos que permaneceram, como cozinhar mais em casa.
Os dados da SIBS Analytics, que agrega informações recolhidas pela gestora da rede multibanco, revelam que, em julho deste ano e face ao mesmo mês do ano passado, o consumo aumentou em setores como super e hipermercados (8%), tecnologia, cultura e entretenimento (54%), serviços de saúde (28%) e ficou abaixo de 2020 na moda e acessórios e nos serviços de catering, restauração e similares (-11%).
Algumas mudanças nos hábitos dos portugueses ajudam a explicar os números. Segundo fonte da Sonae MC, dona das lojas Continente e Modelo, entre outras, "as idas às compras acontecem com menor frequência (em comparação com o período pré-covid-19)" e, por isso, os portugueses "adquirem quantidades superiores em cada ida, inclusive nos produtos frescos". No comércio online, os negócios cresceram 45% no primeiro semestre, mas o grupo continua a abrir lojas físicas - 18 em 2020, sete até agora em 2021.
cozinhar e comer em casa
Tudo indica que os portugueses ganharam o hábito de cozinhar e comer em casa. Quando muito, recorrem ao takeaway dos supermercados, como refere fonte do Lidl: "Desde o início de agosto, face ao mesmo período do ano passado, verifica-se um aumento da procura de bens alimentares como peixe fresco, pão e artigos de conveniência prontos a levar - como o frango assado, hambúrgueres, entre outros". A marca vai abrir oito lojas e remodelar outras 12 ainda este ano. No Auchan, as vendas recuperaram agora da letargia do segundo trimestre e nota-se "a predisposição dos consumidores para a compra de produtos de mercearia e frescos, produtos de higiene e beleza e produtos orgânicos e sustentáveis".
O Pingo Doce destaca a continuação de vendas conquistadas durante os confinamentos e do maior consumo de café, cervejas e vinhos "como resultado do aumento do consumo deste tipo de produtos dentro de casa". Este ano, vão abrir 10 lojas e remodelar outras 15.
No comércio online, a mudança para o consumo feito em casa sentiu-se em 2020, com a maior procura por equipamentos para teletrabalho, máquinas de café ou de exercício. E agora notam-se "descidas mais acentuadas em produtos que anteriormente não tinham expressão, como webcams e passadeiras de corrida". O Kuanto Kusta sublinha que está a "verificar-se um decréscimo na receita de comércio online", que tem dado às lojas oportunidade para "reposição de stocks, em especial de informática".
Necessidade de viver
Algumas categorias ganharam compradores durante o confinamento e mantêm-se "em alta", como as rações para animais, os cosméticos e os produtos para adultos. "O público mais velho veio para ficar, passaram a ser a faixa etária predominante, a par com a dos 25 a 34 anos", revelou fonte do portal comparador de preços. "O número de utilizadoras do sexo feminino subiu 50% entre agosto de 2019 e o homólogo de 2021", acrescentou a mesma fonte, acreditando que tal explique algumas das categorias mais fortes este ano, como "Casa e Decoração" e "Jardim".
Para os especialistas, este pico de consumo era de esperar. "Aqueles que conseguiram manter o nível de rendimento gozam de uma sensação de necessidade de consumir, de fazer aquela compra que foi sendo adiada, aquela viagem de uma vida, porque há uma espécie de sensação de que é altura de viver", resume Sónia Nogueira, especialista em Marketing e docente na Universidade Portucalense.