Susana Vasconcelos sempre soube que, logo que a vida lhe permitisse, queria retribuir a ajuda que recebeu quando, há 12 anos, foi despedida, grávida, e não tinha como comprar o enxoval para a bebé prestes a nascer. Valeram-lhe duas vizinhas que não deixaram que nada faltasse à menina durante 24 meses.
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No carrossel da vida também sucedem voltas felizes e, há três anos, Susana alcançou a estabilidade que tanto desejava. A 13 de outubro lançava o projeto ChikiGentil, Coração com Pernas - uma marca registada que traduz o caráter dinâmico e urgente da solidariedade. Abriu uma loja solidária em Gaia, onde as doações são convertidas em alimentos. O princípio é simples: quem pode, dá roupa ou outros objetos. Quem precisa, recebe. Quem quiser alguma coisa da loja e tiver meios, troca por comida. É lá que Susana recebe os pedidos e entrega a primeira ajuda, de urgência, até ser feita a avaliação, sempre no terreno, das dificuldades. "Já vieram pedir-me ajuda com telemóveis topo de gama e unhas de gel. Não dei", diz.
Não sendo uma associação formalmente constituída, mas um grupo de voluntários, a ajuda é desburocratizada. De pessoas para pessoas, já que não pode pedir doações a empresas. E rápida. "Aqui é tudo para ontem".
No mesmo dia em que iniciou o projeto em Gaia e o lançou ao mundo no Facebook, uma amiga adotou a ideia em Lisboa. Em apenas três anos, surgiram iniciativas semelhantes em mais sete localidades (Madeira incluída). E até fora. Da Bélgica, Suíça, França e Inglaterra chegam ajudas regulares, angariadas por emigrantes e outras pessoas que seguem a obra de Susana no Facebook.
A rede social é a principal plataforma para divulgar os apelos. Que geralmente são pedidos simples. Uma capa para abrigar da chuva uma criança nas suas caminhadas para a escola. Um desumidificador para uma família com três crianças e dois idosos. Roupa para uma desempregada que arranjou trabalho e precisa de apresentar-se de forma profissional.
A partir do apelo, gera-se uma onda de solidariedade. Susana estimula que, sempre que possível, a ajuda vá diretamente de quem dá a quem recebe. Para que quem apoia conheça o rosto que está do outro lado. E o melhor de tudo, o verdadeiro milagre, acontece quando nasce uma cadeia de favores. Por vezes, a partir de quem foi ajudado e quer retribuir. Como a mãe de gémeos que ofereceu um carrinho duplo a uma adolescente, também grávida de dois bebés.