Se, por um lado, o Carnaval é sinónimo de folia e diversão, por outro, costuma significar uma lufada de ar fresco nas contas da restauração, do comércio e do tecido empresarial dos concelhos onde mais se festeja.
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Este ano, com o cancelamento dos corsos e de todas as atividades alusivas à época, o rombo na economia local, de cada município, ascende a verdadeiras fortunas. Só em Torres Vedras, são nove milhões de receitas que ficam por entrar. E em Ovar três milhões e meio.
A maior parte dos concelhos que atraem mais gente no Carnaval não possui estimativas do impacto que os festejos têm na economia. Sabe que o balanço é sempre positivo, que os restaurantes têm fila à porta nos dias dos corsos e que as cidades fervilham como nunca. Mas desconhece os números concretos. Uma das exceções é Torres Vedras. Um estudo orientado pelo Instituto Politécnico de Leiria apurou que, nos habituais cinco dias de festejos, são gerados nove milhões de euros em receitas na economia local.
Ovar também tem números. "Estimamos que o impacto indireto ande na ordem dos 3,5 milhões de euros, entre restauração, comércio e outros", adiantou Alexandre Rosas, vereador da Câmara com o pelouro do Carnaval. No que diz respeito ao investimento da Autarquia, o montante costuma fixar-se nos 700 mil euros. Ou seja, por cada euro investido há um retorno de cinco.
Entre o simbolismo e nada
A Rede de Cidades de Carnaval da Região Centro integra Estarreja, Ovar, Torres Vedras, Mealhada e Figueira da Foz. Os cinco anunciaram, já em setembro, que os corsos não iriam sair à rua. No caso de Estarreja, também não há números concretos sobre o quanto o Carnaval afeta a economia. Diamantino Sabina, presidente da Câmara, adianta que "já se pensou em fazer um estudo, mas sabe-se que o impacto é francamente positivo".
Este ano, as organizações dos carnavais tentaram avançar com programações alternativas para assinalar a data. Mas, devido ao agravar da pandemia, quase tudo caiu por terra. Ovar já vai, segundo Alexandre Rosas, "no plano C". "Mandámos fazer 300 máscaras e as pessoas que quiserem podem ir buscar uma, decorá-la e colocar na varanda", adiantou o autarca. Torres Vedras também optou apenas por uma iniciativa simbólica. Já Estarreja decidiu, "depois de várias hipóteses", não fazer nada. "Entendemos que não devemos gastar dinheiro, quando as pessoas não estão para carnavais", considerou Sabina.
Iniciativas
Monumento
A partir de 12 de fevereiro, e durante um mês, vai estar presente na Praça da República, em Torres Vedras, um "monumento", como "homenagem a todos os que têm estado na linha da frente do combate à pandemia", avançou a organização do Carnaval.
Online
Alexandre Rosas, vereador da Câmara de Ovar, anunciou que vai haver um "programa online", com DJ e outros artistas", para assinalar a data. Só na noite de segunda-feira de Carnaval, Ovar costumava receber "55 mil pessoas".
Contas
Câmaras apoiam grupos e escolas
Os grupos de folia e as escolas de samba dizem que o cancelamento dos festejos não lhes causou prejuízo financeiro, no sentido em que, como os corsos foram cancelados atempadamente, também não tiveram despesas. Mas, em alguns casos, a pandemia afetou-lhes as contas. Valeram-lhes as Câmaras, que mantiveram subsídios - pelo menos, no caso de Estarreja, da Mealhada e de Ovar -, apesar de mais baixos do que o habitual.
"Além do subsídio que costumamos ter da Câmara, vamos buscar muitas receitas a atuações fora e a outras angariações de fundos. No último ano, não foi possível fazer nada. Este ano, esperamos poder retomar atividade lá para o verão", adianta Christian Neves, presidente da Escola de Samba "Os Morenos", de Estarreja. Alexandra Azevedo, presidente da Charanguinha, de Ovar, diz que no caso da sua escola de samba "a situação financeira era estável" e que o que mais tem custado é "o afastamento social", que afeta a dinâmica entre a massa associativa. "O trabalho que temos é zero", lamenta ao JN.