Economista diz que Portugal pode não conseguir recuperar do impacto das medidas de austeridade
O economista e director da Escola de Saúde Pública, João Pereira, manifestou-se, esta sexta-feira, seriamente preocupado com a possibilidade do país não conseguir recuperar economicamente do impacto das medidas de austeridade.
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"A forma como está a ser feito, ao termos um orçamento que parece que vai bastante além daquilo que tinha sido acordado no memorando da troika, deixa-me sérias preocupações de que poderemos chegar a uma situação de que não conseguiremos recuperar do ponto de vista económico", disse, numa entrevista à Lusa.
Numa análise global ao Orçamento do Estado para 2012, João Pereira admitiu que "ninguém tem dúvidas de que "era necessário um orçamento rigoroso" porque "Portugal estava a precisar de rigor nas finanças públicas há vários anos".
Apesar de reconhecer a necessidade dos cortes, lamentou que não existam "medidas suficientes que permitam dar vida à economia em termos de recuperação" e considerou que o aumento proposto de meia hora de trabalho no sector privado não vai aumentar a produtividade.
Para João Pereira, "não há um sinal claro de medidas estruturais, que seriam particularmente necessárias para o desenvolvimento económico", e como exemplo aponta o caso do sector justiça, que terá sofrer reformas.
"Precisamos de mudar radicalmente o nosso sistema de justiça, que não permite o crescimento económico. Precisa de ser muito mais célere para haver condições para o desenvolvimento económico", explicou.
Segundo João Pereira, a aplicação sucessiva de restrições orçamentais vai provocar grande desmotivação, levando mesmo ao aumento da emigração.
"Vamos ter milhões de trabalhadores e famílias altamente desmotivados, o que não é propriamente uma boa situação se queremos retomar o crescimento económico", disse, acrescentando: "Suspeito sinceramente que isto possa levar a dificuldades não durante um, dois ou três anos, mas pelo menos uma ou duas décadas".