Empresas de vinho do Porto pedem medidas ao Governo para evitar crise no Douro
Pedido feito ao Ministério da Agricultura tem “caráter de urgência” e prioriza a colheita em verde e a destilação de crise.
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A Associação de Empresas de Vinho do Porto (AEVP) pediu ao Ministério da Agricultura para tomar medidas que evitem mais um ano negro na Região Demarcada do Douro. Depois de dois anos marcados pela crescente falta de interesse das grandes empresas produtoras pelas uvas dos viticultores, devido aos stocks elevados de vinho e descida das vendas, a perspetiva para a próxima vindima é ainda pior.
Em comunicado desta quarta-feira, a AEVP afirma que solicitou ao Ministério da Agricultura, com “caráter de urgência”, a abertura de “regimes já previstos no Plano Estratégico da Política Agrícola Comum”. Uma delas é a “colheita em verde”, que “possibilita a remuneração dos viticultores que não tenham perspetivas de comercialização da sua colheita”. Consiste no corte dos cachos antes de as uvas amadurecerem, sendo os agricultores compensados por isso.
Outra medida é a “destilação de crise”. Segundo a AEVP vai permitir, por um lado, “a libertação de armazenamento para acomodar a vindima de 2025”, e, por outro, “contribuir para a reposição de vinhos aumentando as compras a efetuar”.
A associação justifica o pedido feito ao Ministério da Agricultura com a “necessidade de conferir condições de sustentabilidade económica aos viticultores e aos agentes económicos da fileira”.
Segundo a AEVP, a crise atual na Região Demarcada do Douro deve-se à evolução negativa da venda de vinho do Porto que “desde 2000 já perdeu um terço do mercado”. Esta tendência “agravou-se em 2024” o que levou à perda de “mais 2,6%”. Por outro lado, recorda a necessidade de preparar a próxima vindima na Região Demarcada do Douro face um “nível de stocks em toda a fileira que nunca foi tão alto”.
A AEVP frisa também as previsões de compra para a próxima vindima, com base nas “extrapolações das intenções do comércio para todo o setor”. São de “cerca de 39,6 milhões de litros (72 mil pipas) de mosto para vinho do Porto” – em 2024 foram autorizadas 90 mil pipas – e “cerca de 55 milhões litros (100 mil pipas) de vinho do Douro”.
Outras justificações para o pedido urgente de medidas são o facto de a produção média das últimas cinco vindimas ter sido de “135,3 milhões de litros (246 mil pipas)” e de a próxima colheita estar “previsivelmente acima daquele valor”. Mais: “não houve acordo nas medidas estruturais a serem tomadas e o Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto não aceitou as medidas conjunturais disponíveis” e que a AEVP considera “prementes” de modo a “minimizar os efeitos negativos sobre os viticultores”.
A associação sublinha que não tomar as medidas propostas significará “agravar conjunturalmente uma crise que, necessitando de medidas estruturais que adequem a oferta de vinhos à sua procura, levarão de imediato toda a Região Demarcada do Douro à perda significativa da sua rentabilidade”.
A AEVP é uma associação sem fins lucrativos que reúne 33 empresas comerciais, que representam 63% da comercialização total de vinhos da região, 80% do vinho do Porto, 44% do vinho com Denominação de Origem Protegida Douro e 40% do vinho com Indicação Geográfica Duriense.