As empresas exportadoras do Norte conseguiram reagir melhor aos constrangimentos criados pela covid-19 e continuaram a vender, em 2020, com quebras abaixo da média nacional ou, em alguns casos, surpreendentes crescimentos. E há boas notícias para este ano, a nível de resiliência e risco de fracasso.
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Só no Norte, mais de 16 mil empresas exportadoras estiveram expostas aos impactos do combate à covid-19 no ano passado. A maioria conseguiu reagir, reinventar-se, em alguns casos, e procurar novas rotas, noutros. Setores tradicionais, como o têxtil, deram a volta à quebra nas encomendas de moda e dedicaram-se às máscaras certificadas, aumentando o peso nas vendas para 18%. As tecnológicas deram resposta às necessidades de investimento no digital em todo o Mundo e ampliaram negócios com o estrangeiro (ler caixa).
"O Norte manteve um excedente comercial, que ascendeu a 4,5 mil milhões de euros em 2020, com uma taxa de cobertura de 128%, quando a média nacional é de 79,3%. Isto mostra onde se produz valor acrescentado e onde está a indústria", comentou Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (ler mais ao lado).
Família e resiliência
Só em 2009 houve registo de uma quebra tão grande nas exportações portuguesas como em 2020. Mas as perspetivas são de rápida recuperação. A maioria das exportadoras do Norte tem um risco mínimo ou reduzido de cessar atividade nos próximos 12 meses sem pagar as suas dívidas (77%) e uma resiliência elevada a média (83%), segundo análise da consultora Informa D&B.
O Norte é importante para as exportações, mas "não é um ratinho que puxa a carroça", apontou o economista Miguel Coelho. As empresas familiares que funcionam como motor da resiliência do Norte, mais dispostas a sacrifício pessoal para manter os negócios, podem ser "uma desvantagem, quando a gestão não é profissional", apontou. Além disso, "são mais avessas ao risco e à entrada de capitais externos e isso é algo que falta às nossas empresas para financiar a inovação e desenvolvimento".
O presidente da AEP coloca "as pessoas do Norte" entre os principais fatores de competitividade das exportadoras da região e sublinha que, na região, "ainda que com a ajuda das medidas do Governo, o desemprego está tão abaixo do que poderia ser, com números que nos podem orgulhar, e que correspondem ao esforço dos empresários por manter as pessoas de que vão precisar para recuperar".
Desafios globais
As exportadoras portuguesas enfrentam desafios comuns, segundo Miguel Coelho: a concentração de mercados e em setores de atividade. "Veja-se o elevado peso da refinação de petróleo e do setor automóvel de motor a combustão, dois setores com tecnologia ultrapassada e de baixo valor acrescentado", enunciou. "Muito do que precisamos para vencer nas próximas décadas depende de políticas europeias que permitam enfrentar a China e os EUA. O eixo da Europa tem estado na Alemanha, que hoje produz tecnologia do século passado. A Europa não deu a volta, não investiu em I&D e tem de preparar já o futuro sob pena de não recuperar", alertou.
Critical Software
Vendas para duas dezenas de países cresceram 11% em ano de pandemia
A empresa de desenvolvimento de software à medida Critical Software está a fechar as contas de 2020 com mais 11% de exportações no volume de negócios global de 64 milhões de euros. A maioria (85%) corresponde a exportação de serviços, com destino a duas dezenas de mercados. Entre os mais importantes, Pedro Murtinho destaca a Alemanha (29%) e o Reino Unido (26%). "Nos últimos três anos, as exportações cresceram, em média, 27% por ano", reconheceu o diretor financeiro da empresa sediada em Coimbra, com escritórios em Porto, Lisboa, Viseu, Vila Real, Tomar, Reino Unido e Alemanha. "Sofremos algum impacto de clientes afetados pela pandemia, como a aviação, mas outros trabalharam bem, como os transportes (temos projetos da ferrovia no Reino Unido, EUA, Alemanha, Suíça, Suécia), a energia, a banca e seguros e telecomunicações", resumiu o responsável. A explicação para o êxito da Critical Software em 2020 poderá estar na "necessidade de dar continuidade ou até acelerar os projetos de transição digital em que as empresas investiram nos últimos anos".