Faltam transportes nas ruas. Situação agudiza-se nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa.
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Os transportes não estão a acompanhar o desconfinamento. Faltam autocarros, muitos circulam cheios e os problemas agudizam-se nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa nas zonas onde o serviço é feito por empresas privadas. As operadoras alegam a falta de passageiros e a quebra nas receitas para lembrar que dependem de mais financiamento do Estado para reforçar a oferta.
Isto, apesar do aumento das rotas, a lotação limitada e a diminuição dos proveitos da bilheteira não permitir a reposição do serviço a níveis pré-pandemia, avisa o presidente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de Pesados de Passageiros (ANTROP). Fora das áreas metropolitanas, Luís Cabaço Martins diz que algumas autarquias ficaram com as verbas do transporte escolar (o que considera ilegal), inviabilizando o aumento da oferta.
138,6 milhões de euros é a dotação do Orçamento do Estado para o PART em 2020, ou seja, cerca de 35 milhões por trimestre. 16,57 milhões de euros foram transferidos para compensar o diferencial em passes sociais no primeiro semestre deste ano
O Ministério do Ambiente diz que as autarquias usam verbas do Fundo Social Municipal para o transporte escolar, essencial também para "a sustentabilidade da oferta em muitos dos municípios". Sublinha ainda a implementação de "um vasto conjunto de medidas de apoio à economia, visando ajudar as empresas a suportar o impacte económico da pandemia" e a interação "constante" com a ANTROP.
"A situação do setor é muito negativa. Em abril, a procura reduziu muito. Com as orientações para não validar os títulos e abrir só a porta de trás, as receitas também caíram a pique. A componente comercial [excursões, alugueres de fim de semana, visitas de estudo] desapareceu e colocou as empresas numa situação muito difícil", explicou Luís Cabaço Martins. De acordo com o dirigente, a oferta situa-se entre os 40 e os 50% no Porto e em Lisboa.
Na operadora Maia Transportes, ronda os 53%, um valor "muito superior à procura". "Só é possível porque estamos em lay-off. Temos também o pagamento das compensações do Programa de Apoio à Redução Tarifária que a Área Metropolitana do Porto decidiu manter. São essas duas situações que nos permitem manter uma oferta reduzida face ao que existia mas muito superior em relação à procura", referiu o diretor Hugo Martins.
Na Espírito Santo, de Gaia, as linhas estão suspensas aos domingos e feriados. Nos restantes dias, quase metade da oferta foi reposta. "Estamos a trabalhar com dificuldades", afirmou Luís Espírito Santo.
Dificuldades
A Rodoviária de Lisboa diz que, face à procura, não é possível repor a oferta total sem apoios. Mas assegura que o serviço atual é adequado e nega sobrelotação.
Servindo Porto, Matosinhos, Valongo, Paredes, Penafiel, Lousada, Amarante e Gondomar, a Valpi está com a procura nos 20%. Segundo Eduardo Caramalho, administrador, é controlado diariamente o número de passageiros, de forma a fazer os ajustes necessários.
As áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa asseguram estar a acompanhar a situação. Na capital, Carlos Humberto Carvalho, primeiro secretário metropolitano, já fez chegar ao Governo a necessidade de reforço do financiamento para que as operadoras consigam retomar a oferta anterior.
Outras operadoras
Transdev
A Transdev está "a auscultar as populações das zonas que serve, através de uma plataforma online, para adaptar a oferta à procura". No que toca a alguns municípios terem assegurado o transporte escolar, a operadora diz que a opção, entre outras implicações, pode mesmo comprometer o futuro das empresas e dos seus postos de trabalho.
Maré
A operar sobretudo em Matosinhos, a transportadora tem disponível cerca de 43% da oferta e monitoriza a procura de forma a aumentar as rotas em caso de necessidade.