Sem capacidade de produzir gás, Espanha pode, contudo, revelar-se fundamental na questão do armazenamento e distribuição, já que conta com uma das melhores infraestruturas do Mundo. Além disso, a posição que ocupa no mapa também pode ser um trunfo no momento de fornecer energia à Europa, caso o Kremlin avance com um corte deste bem.
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O Velho Continente é extremamente dependente de outros países no que diz respeito ao abastecimento de gás, e é na Rússia que encontra grande parte da energia que consome, importando deste país 40% do gás. Ainda assim, "a Europa não está totalmente dependente da Rússia para ter energia", assinala José Carlos Matos, responsável pelo Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Industrial.
"Espanha possui neste momento um quarto da capacidade de regaseificação de gás liquefeito da Europa. Possui também, aproximadamente, um terço da capacidade de armazenamento à escala europeia", explica Francisco Carballo-Cruz, professor de Economia na Universidade do Minho.
Segundo fontes do jornal espanhol "El País", a participação do país na operação poderia ajudar parcialmente a mitigar uma crise energética na Europa, mas seria insuficiente para cobrir totalmente o "buraco" deixado pelo gigante russo.
Apesar dos seis postos estarem localizados de forma estratégia, o processo poderia ser dificultado por alguns entraves. "Uma das restrições é o facto de haver pouca capacidade física para fazer o transporte para o resto da Europa", alerta José Carlos Matos, referindo-se aos gasodutos existentes.
Através dos Pirenéus
A partir das centrais espanholas, o gás deveria ser transportado pela rede até aos gasodutos que atravessam os Pirenéus e seguem para França. Nesta região, estes iriam conectar-se com a rede francesa de gasodutos e, mais tarde, com a do resto da Europa, porém ambos os gasodutos têm uma capacidade muito baixa. "As conexões Irún-Biriatou e Larrau-Alçay não têm capacidade suficiente para fazer chegar o gás necessário a países do Norte e do Centro da Europa, com níveis de dependência face ao gás Russo superiores a 80% e incluso a 90%", aponta Carballo-Cruz.
Espanha pode assim ver-se condicionada, fazendo com que o contributo dado seja apenas uma gota num oceano gigante que é o consumo energético europeu. Uma forma de ultrapassar esta limitação seria reativar "o projeto do gasoduto Midgas, que ligaria a Península Ibérica ao centro da Europa. Esta infraestrutura permitiria transportar até aos principais consumidores Europeus gás procedente da Argélia, através dos gasodutos que atravessam o Mediterrâneo", esclarece o docente da UMinho.
Outros fornecedores
Perante a necessidade de encontrar outros fornecedores de gás, as opções são muitas. Desde os Estados Unidos, ao Qatar, Nigéria ou Trindade e Tobago, todos eles são "potenciais fornecedores dos países europeus atualmente dependentes do gás russo", destaca o professor de Economia.
Porém, o volume de gás que a Europa poderá vir a precisar não pode ser colmatado de forma unilateral por nenhum destes países sem que esse fornecimento não fragilizasse as entregas a outras regiões.
Como forma de prevenção, "nas últimas semanas foi ativado um plano de ação para fazer chegar gás procedente dos Estados Unidos", informa Carballo-Cruz, realçando que "é provável que, mesmo em caso de conflito, a Rússia cumpra os seus contratos de fornecimento, pelo menos parcialmente".
O caminho da Península até ao resto da Europa
Com seis portos de armazenamento, a operação, que começaria em Espanha, passaria pela distribuição de gás que chegaria aos portos da Península Ibérica. Neste cenário, os navios teriam a função de descarregar o gás para depois ser reexportado para outros países vizinhos, como França ou Alemanha.