A pandemia da covid-19 veio baralhar a agenda dos produtores de castanha em Trás-os-Montes, das mais representativas da região, gerando mais de 50 milhões de euros por ano só em Bragança e Vinhais.
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Prestes a começar a colheita, agricultores, comerciante e empresários não sabem com o que podem contar. "Se, por um lado, há a questão da apanha, pois pode faltar mão de obra face aos receios da covid-19, também não se sabe se os principais mercados, como Itália e França, vão comprar, porque há muita restauração e comércio fechado. Se não se consumir não vão comprar. Vai ser um problema", admite Vasco Veiga, o responsável da Sortegel, a maior fábrica nacional de laboração daquele fruto seco e um dos principais compradores em Bragança e Vinhais.
A confirmarem-se as dificuldades, os preços podem baixar na aquisição ao produtor, acredita Vasco Veiga.
Indefinição na apanha
Antes de enfrentar os eventuais problemas da comercialização, é preciso apanhar a castanha. Adivinha-se uma colheita com quantidade e qualidade. "Há muita falta de trabalhadores na região e quem apanhava a castanha eram os búlgaros. Este ano, não se sabe se aparecem ou se os agricultores os contratam com receio do coronavírus", referiu Vasco Veiga.
A expectativa é grande. "Ela não se apanha sozinha, será preciso muita gente", acrescentou.
A possibilidade de dificuldade nas vendas não agrada a Telmo Afonso, produtor em Espinhosela, uma aldeia que produz cerca de 500 toneladas de castanha por ano, com receitas que ultrapassam um milhão de euros, e que não nega que "muitos se queiram aproveitar da covid-19 para baixar os preços".
Algum otimismo
O produtor de castanha está otimista. "As pessoas precisam de comer, a indústria do setor carece deste fruto que cada vez tem mais utilizações, até no fabrico de chocolates", sublinha.
Ainda assim, Telmo Afonso admite que possa existir menos procura por parte da restauração e da venda nas ruas, só que este não é o principal canal de escoamento. "É uma quantidade considerável que se deixa de vender, mas em Itália, este ano, a produção baixou por causa do impacto da vespa-das-galhas-do-castanheiro. Temos de aproveitar isto e vender para lá e até mais cara. Em França, a indústria continua a laborar", observou o produtor que recomenda "calma" aos agricultores.
"Não podemos entregar a produção ao desbarato, porque 10 ou 20 cêntimos em quilo fazem muita diferença, nem acreditar que este ano não se vende porque não há procura. O mercado da castanha é muito violento, competitivo e varia de um dia para o outro", nota Telmo Afonso.
Covid-19
Feiras da castanha canceladas na região
As principais feiras da castanha transmontana, a Rural Castanea de Vinhais e a Feira Internacional do Norte - Norcaça, Bragança, que habitualmente se realizam em outubro, foram canceladas devido à covid-19. Também Valpaços não vai ter certame. A Norpesca e Norcastanha não representam o principal ponto de escoamento da produção local, mas são uma montra importante. Em Vinhais, o movimento também aumenta por alturas da feira. "Todos sabemos a importância deste evento, dado que a castanha desempenha uma função crucial na vida da população do concelho, porém, a prioridade é a proteção da saúde pública e o esforço de todos para a contenção do surto", referiu Luís Fernandes. Em Carrazedo de Montenegro, Valpaços, a Feira da Castanha Judia é um dos eventos com maior expressão na região e decorre, normalmente, em novembro. Representa, em média, cerca de 50 milhões de euros na economia do concelho.