O relógio da estação do Cais do Sodré, em Lisboa, marcava as 8.45 horas, e Nilsa Vedor da Costa, de 37 anos, cozinheira na Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, em Paço de Arcos, via a vida a andar para trás, depois de ter saído de Alverca às 6 horas da manhã.
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"Estou uma hora atrasada e já telefonei à minha chefe a avisar que se calhar não vou conseguir ir trabalhar", lamentava-se Nilsa, preocupada com os almoços dos alunos e com a possibilidade de perder um dia de trabalho.
Depois de ter apanhado dois autocarros e ter demorado mais do que o habitual no trajecto, Nilsa era uma das poucas pessoas que esperava por comboio no Cais do Sodré, uma das estações mais movimentadas da cidade - onde convergem os passageiros da estação fluvial, estação de comboios, metro e autocarros -, mas que se encontrava praticamente vazia.
Nos anos anteriores, a cozinheira conseguiu escapar à greve geral sem ter de faltar ao trabalho, uma vez que a empresa para a qual trabalha disponibilizou transporte para os funcionários e assumiu todas as despesas de deslocação. Em ano de crise, o cenário não se repete: "a situação está mais complicada."
Nilsa não tem viatura própria, mas se tivesse garante que também não a utilizaria em dia de greve geral. Além do trânsito, revela que "ia gastar quase o dobro" daquilo que ganha por dia.
Apesar de a CP não ter cumprido os serviços mínimos, Nilsa conseguiu embarcar no comboio das 9.02 horas - o segundo a sair do Cais do Sodré em direcção a Paço de Arcos - e garantir o almoço aos alunos da Infante D. Henrique.