As explicações de Ricardo Salgado, presidente do BES e do Grupo Espírito Santo, para a ocultação de uma dívida de 1,3 mil milhões de euros na Espírito Santo International (ESI) foram "confusas" e "circulares" e "não permitiram nenhuma explicação".
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A revelação foi feita, esta tarde, no Parlamento, por Carlos Calvário, ex-quadro do BES, a quem o GES pedira para acompanhar o exercício de avaliação feito pelo Banco de Portugal, em novembro de 2013, que acabou por ser determinante na descoberta do buraco de 1,3 mil milhões de euros nas contas da holding do grupo.
No âmbito desse trabalho, Calvário necessitava que todas as empresas do grupo lhe dessem os valores da dívida, mas teve muitas dificuldades em consegui-los. "Para que é que precisa disso?", ter-lhe-á perguntado o ex-controller financeiro do GES, José Castella, ao que lhe respondeu que "era assim que se fazia".
"Eu precisava da dívida, mas da dívida com detalhe. Precisava de perceber as maturidades, as taxas de juro que estavam envolvidas para poder construir o serviço da dívida. Nem sequer me bastava um número, precisava desse detalhe", revelou aos deputados da comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES, admitindo que ficou "perplexo" com a explicação que lhe deram para a dificuldade em fornecer essa informação.
"A resposta que eu tive foi que estariam a analisar a dívida. 'Estão a analisar a dívida porquê? O passivo é das coisas mais objetivas numa empresa'", pensou, explicando aos deputados que a dívida não lhe foi disponibilizada. "A dívida normalmente em qualquer empresa é das coisas mais objetivas e mais fáceis de obter. Não havia razão nenhuma para não ser possível fornecer o que eu estava a pedir", disse, revelando que apenas lhe disseram que a dívida era "muito superior" ao registado.
Calvário pediu que lhe explicassem que diferença era essa, e por que razão existia, mas o que lhe foi dito era que não estavam em condições de o fazer. "Teria que ser o doutor Ricardo Salgado a dar essa explicação", disse.
Foi então que, no início de novembro - em data que não conseguiu precisar - foi chamado para uma reunião com Ricardo Salgado, onde estavam também o contabilista Machado da Cruz e o controller financeiro José Castela. "A reunião tornou-se bastante confusa. Poderia ter havido um erro, poderia ter havido empresas que não deviam e que estavam a ser consolidadas. Eu confesso que não entendi exatamente várias das explicações, até porque as explicações eram extremamente circulares à volta do mesmo e não permitiam nenhuma explicação", disse, aos deputados, admitindo que não saiu esclarecido.
Calvário diz que sempre lhe disseram que tinha havido um "erro" nas contas, mas admite que alguém possa ter feito esse controlo das contas certas uma vez que, no final de novembro, no âmbito de uma auditoria, elas acabaram mesmo por aparecer. Admite que se sente "enganado" pelo grupo. "Nunca tive quaisquer indícios que as contas estavam falsas", disse, quando confrontado com o facto de ter feito uma avaliação de rating à ESI em 2012, a pedido de Salgado, para apresentar a empresa a investidores.