Falta de estratégia para cereais coloca Portugal em situação de grave dependência
A Associação Nacional de Produtores de Cereais afirma que Portugal está numa situação de grave dependência externa, apesar de ter capacidade para produzir mais cereais, porque falta uma estratégia política que dê ao setor a importância que merece.
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Portugal importa cerca de 80% dos cereais que consome, um problema que o presidente da Associação Nacional de Produtores de Cereais (ANPOC), Bernardo Albino, considera "gravíssimo" e em relação ao qual o poder político deveria fazer "uma abordagem estratégica", pois "não é bom para o país".
Bernardo Albino afirmou que o Governo devia mostrar que "esta é uma questão importante" e acrescentou que, embora exista sempre um grau de dependência externa, "porque não há condições climáticas para produzir de forma desmesurada todos os cereais", Portugal poderia aumentar o nível de aprovisionamento de alguns grãos, recorrendo inclusivamente a zonas de regadio.
O Instituto Nacional de Estatística prevê que a produção de cereais atinja, este ano, o valor mais baixo desde 2005, uma situação que já era esperada e que Bernardo Albino atribui exclusivamente à seca que atinge atualmente mais de 80% do território, já que a área semeada até aumentou.
'Stocks' para 2 ou 3 meses
A subida dos preços dos cereais - entre 20% a 40%, desde o início do ano - leva cada vez mais agricultores a optarem por este tipo de cultivo, mas é preciso mais incentivos.
"Os agricultores mostram interesse em cultivar e respondem a estímulos e os estímulos foram a subida dos preços", disse o responsável da ANPOC, sublinhando que Portugal pode ser competitivo neste setor.
"O que é facto é que os grandes produtores de cereais do mundo são tão competitivos como nós. Os EUA têm a nossa produtividade nos cereais outono/inverno", afirmou Bernardo Albino.
A diferença é que enquanto países como os EUA, a Rússia ou o Brasil valorizam a fileira, Portugal não lhe atribui importância.
"Só nós é que achamos que é irrelevante que 80% daquilo que o nosso povo come seja importado. No dia em que haja questões protecionistas ou aumentos de preços loucos ou quaisquer tipo de restrições o nosso país sofrerá muito mais do que um país que é produtor", alertou Bernardo Albino.
As quebras de produção nos EUA, devido à seca, bem como na Rússia e na Ucrânia, após um inverno rigoroso, agravadas pela diminuição dos 'stocks', fizeram disparar os preços e geraram alarmismo a nível internacional.
"Como os 'stocks' não são muito grandes, isso faz com que haja mais atenção a estes problemas. Há 10 ou 15 anos, havia excedentes de produção anuais enormes e uma seca nos EUA era irrelevante porque havia 'stocks' para 2 ou 3 anos. Agora há 'stocks' para 2 ou 3 meses", explicou Bernardo Albino.