Subida do custo da energia e dos transportes gera carência de pasta de celulose e de madeira. Gigante Navigator sobe preços em dezembro.
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O aumento dos preços da energia e a crise internacional dos transportes vai ter sérias repercussões no preço dos produtos fabricados ou embalados com papel ou cartão, como livros, jornais, guardanapos ou papel higiénico. O aviso é do setor, que já está a subir preços devido à escassez de pasta de celulose e de madeira.
Há duas crises a assolar o setor do papel. Uma é a da subida exponencial do preço dos combustíveis, gás e eletricidade; e a outra é a escassez de matérias-primas. "Honestamente, não sei qual é a pior", desabafa José Manuel Lopes de Castro, presidente da Associação Portuguesa das Indústrias Gráficas e Transformadoras do Papel (Apigraf). A montante dos associados da Apigraf, há falta de pasta de papel e de madeira, que é preciso importar e "é aí que começa o aumento", identifica Lopes de Castro. Por um lado, a madeira não chega ou vem inflacionada, pois o transporte de cargas internacionais está mais caro. Por outro lado, a produção de pasta é um grande consumidor de energia, "que também disparou de uma forma absolutamente incontrolável", denota o dirigente associativo.
O QUE VAI AUMENTAR
Quando se fala em inflação dos produtos que utilizam papel, é preciso perceber que não são só os jornais e os livros que vão sofrer com a inflação. São também as caixas, as embalagens, o cartão ou a cartolina e, no limite, todos os produtos embalados com eles, desde os medicamentos à alimentação, passando pelos guardanapos ao papel higiénico.
"Os prazos de entrega já nem existem, é quando houver, e isso não é possível porque o jornal sai diariamente, o livro tem data de lançamento, a caixa para medicamentos tem prazo e tudo está a ser posto em causa", lamenta o presidente da Apigraf, que acrescenta que o reflexo dos preços neste setor "é imediato e vai ter que ser repercutido nos produtos".
O grupo Navigator, gigante português do papel com presença em todo o Mundo, anunciou na semana passada que, em dezembro, vai aumentar entre 8% a 10% o preço do papel "tissue" (papel higiénico, guardanapos, rolos de cozinha ou toalhas de mão). O grupo ficou sem alternativa face ao "aumento generalizado e muito significativo dos preços em muitos dos fatores de custos, nomeadamente produtos químicos, energia, materiais de embalagem, logística e celulose, sendo esta última o principal fator".
O índice internacional do preço da pasta de papel subiu 78% desde o início do ano. No mesmo período, os custos energéticos quase quadruplicaram e o preço do gás praticamente sextuplicou.
Energia
Sobretaxa das papeleiras cria incerteza
Algumas papeleiras já estão a aplicar sobretaxas aos preços por tonelada do papel, como é o caso da Navigator, que aplicou, este mês, um incremento de preço de 50 euros por tonelada a todos os produtos. A justificação é de que o custo de produção aumentou exponencialmente devido às fibras, licenças de carbono, químicos, embalagens, logística e energia. "Todos estes aumentos repentinos estão a ter um impacto muito significativo", justifica a Navigator.
A Apigraf não concorda com a taxa e está a discutir o assunto com os parceiros europeus: "Uma indústria colocar no seu produto uma taxa energética cria-nos uma incerteza enorme, até porque algumas empresas gráficas têm uma componente muito grande de concursos públicos e é perfeitamente impossível concorrer para um concurso público para trabalhar durante um ou dois anos com uma incerteza de preços da matéria-prima".