Ao longo do último ano, particulares guardaram apenas o equivalente a 1,61% do PIB, pouco mais de 3,4 mil milhões de euros, perto do nível de 2008.
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As famílias portuguesas vão enfrentar a pandemia, e a recessão que dela se antecipa, depois de terem construído ao longo do último ano a mais curta almofada financeira numa década. E, bem assim, com um pé-de-meia potencial que vale apenas metade da média de poupanças no conjunto dos países do euro.
44% das poupanças dos portugueses estão em depósitos bancários: mais de 193 mil milhões de euros. Outros 30% estão em ações e fundos de investimento
De acordo com os últimos dados, os particulares em Portugal só conseguiram, ao longo do último ano, acrescentar ao seu património financeiro, em termos líquidos, mais 3,4 mil milhões de euros, ou o equivalente a 1,6% do PIB.
A tendência de redução tem sido uma constante, mas no final de 2019 bateu no fundo, para ficar ao nível mais baixo de uma década quando se tem em conta os valores para o ano acabado no 4.º trimestre. Só no final de 2008 (ano que marcava o início da última crise global e que havia de precipitar Portugal e outros países europeus numa crise da dívida soberana) se registou uma poupança financeira menor por parte das famílias portuguesas. Nesse ano, os particulares conseguiram colocar a render, em termos líquidos, pouco mais de 371 milhões de euros, ou apenas duas décimas do PIB.
74 mil milhões de euros dos portugueses estão em seguros, pensões e outros direitos (17% das aplicações). Os títulos de dívida recolhem 2% da poupança
Os dados do Banco de Portugal têm em conta o último trimestre de 2019, período para o qual o país registava uma taxa de poupança (diferença entre o que as famílias ganharam e gastaram) de 7,2%. O peso do rendimento livre representava então pouco mais de metade da taxa de poupança média de 13% no conjunto do euro, nos dados mais recentes do Eurostat que ainda não comparam os dados de final de ano (Portugal terminou com uma taxa de poupança de 6,7%).
A situação portuguesa tem um forte contraste com a que se regista no coletivo do euro, onde países como Alemanha, Holanda, Áustria e Suécia empurram, e bastante, a média das poupanças para cima. As famílias alemãs e suecas poupavam no trimestre de final do ano praticamente 19% dos rendimentos, as holandesas cerca de 16%, e as austríacas 14,5%, entre os países com dados já reunidos para o final do último ano.
Crédito pessoal disparou 14,2% em fevereiro
Os portugueses pediram emprestado 305 milhões de euros em crédito pessoal em fevereiro, um aumento de 14,2% face a igual mês de há um ano.
O crédito automóvel cresceu 8%, atingindo os 233 milhões de euros, enquanto os cartões de crédito e linhas a descoberto se fixaram em 107 milhões, mais 15,9% em termos homólogos, indicam dados divulgados ontem pelo Banco de Portugal.
No total, os portugueses endividaram-se em mais 645,4 milhões de euros em crédito ao consumo no mês que antecedeu a declaração de estado de emergência no país, devido pandemia.
O montante global registado em fevereiro corresponde a uma subida de 12,2% face ao mesmo mês do ano passado e a uma subida de 1,2% comparando com janeiro de 2020.
Na terça-feira, o Banco de Portugal já tinha divulgado a evolução dos empréstimos a particulares, com os valores a atingir novos máximos.