Com cada vez menos balcões e ATM, os clientes são empurrados para as operações online, onde pagam comissões. O Interior do país e os idosos são mais afetados.
Corpo do artigo
Um cliente que realize três transferências mensais para outro banco paga, em média, 27,6€ em comissões na Banca online e 252€ ao balcão, quando o custo das mesmas operações no multibanco (ATM) seria zero. O encerramento de cada vez mais ATM, especialmente em zonas com mais idosos e no Interior, penaliza duplamente as populações, que nem sempre podem aceder à Banca online ou pagam, em alternativa, centenas de euros a mais ao balcão.
No ano passado, a pandemia acelerou o encerramento de balcões no país. Segundo a Associação Portuguesa de Bancos, 2020 acabou com menos 202 agências bancárias e menos 1200 funcionários. De acordo com os dados do Banco de Portugal, a 31 de dezembro de 2020, existiam 14,3 mil caixas automáticas (incluindo os de redes internas). "A quantidade de caixas automáticas diminuiu 1,4%, regressando à tendência de decréscimo registada desde 2011 e que apenas foi interrompida em 2019", explica o regulador, contrapondo que esta redução foi "acompanhada do crescimento sustentado do número de terminais de pagamento automático [usados nas lojas]".
Terminais de pagamento
Ao consumidor, essa relação pouca vantagem traz, pois não é nos pagamentos de compras que se escondem as comissões bancárias que são cobradas, sendo ainda gratuitas nos ATM. As transferências para outros bancos, cujo custo médio, segundo cálculos da Deco, é de 0,77€ online e de 7€ ao balcão, são gratuitas no multibanco. Quem realizar três destas operações por mês vai pagar, em média, 27,6€ na Banca online e 252€ ao balcão.
Contas à poupança
O portal Comparajá.pt fez as contas aos cinco maiores bancos, que detêm cerca de 80% dos clientes. "Para um consumidor que faça três transferências interbancárias mensais, a poupança obtida no multibanco em detrimento do balcão chega aos 216€ por ano (considerando o custo médio de 6€)", explicou o porta-voz, Miguel Ramalhosa.
"A Banca está a contribuir para agravar as desigualdades sociais e geográficas no nosso país, uma vez que é nas zonas mais despovoadas que desaparecem mais ATM, depois de já terem encerrado balcões. E agrava ainda as desigualdades do acesso às tecnologias, porque nem todos têm capacidade, principalmente os mais idosos", analisou Nuno Rico, economista da Deco.
Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, de 2019, contam-se 31 municípios com apenas um multibanco, de norte a sul, todos no Interior. Contrastam com Lisboa, concelho onde havia 1145 multibancos, ou o Porto, com 448. Mesmo com menos 40 balcões do que em 2018, Lisboa ainda tinha 496. E o Porto, com menos cinco, ficou com 204.
"Há 31 municípios só com um ATM. Basta que avarie ou fique offline e as pessoas têm de se deslocar, por vezes, muitos quilómetros, com dificuldade e com custos de transporte, para poderem realizar operações simples. E ainda pagam mais", alertou Nuno Rico.