Com o fim das restrições, empresas de diversões e feirantes contam com ano excelente. Pirotécnicos temem proibições do Governo impostas na época de incêndios.
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Não fossem as incertezas geradas pela guerra na Ucrânia, a próxima época de romarias, festas e feiras poderia, até, ser melhor do que antes da pandemia. Mesmo assim, as empresas que as animam e que resistiram à crise estão confiantes que 2022 vai ajudar a atenuar as quebras no negócio provocadas pela escassa atividade nos dois anos anteriores.
Lina Guedes, presidente da Associação Nacional de Empresas de Produtos Explosivos (ANEPE) diz que o prejuízo "supera os 20 milhões de euros", quase metade do volume de negócios do fabrico de pirotecnia e explosivos em Portugal. Carlos Macedo, presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Pirotecnia e Explosivos (APIPE), acrescenta-lhe as "empresas que encerraram", pois "foi muito difícil aguentar" nos dois anos de pandemia.
Muitas das empresas tiveram de "reduzir drasticamente o número de colaboradores", prossegue Lina Guedes, lamentando que se tenham perdido "décadas de investimento em mão de obra especializada". "Uma perda irreparável", frisa. "Muitas pessoas foram para outras áreas e algumas tiveram de emigrar", aduz Carlos Macedo. A razia só não foi maior porque "muitas empresas são familiares e ampararam-se uns aos outros". Os distritos do Porto, Braga e Aveiro foram os mais afetados.
Agora é tempo de encarar o futuro com esperança. Sem restrições em espaço aberto derivadas da covid-19, tudo leva a crer que será possível alguma recuperação. Carlos Macedo explica que a Páscoa foi "muito próxima do normal" e outros eventos de abril estiveram "mais ou menos ao nível dos anos 2019 e anteriores". As festas de verão "parecem alinhadas com tempos pré-pandemia".
A ameaça dos incêndios
A presidente da ANEPE admite ter uma "expectativa enorme", apesar dos "tempos de grande incerteza" em relação a espetáculos e eventos planeados. É que o contrato tido hoje como garantido pode ser anulado amanhã. Basta que coincida com uma época de maior risco de incêndios florestais para poderem ser proibidos.
Lina Guedes acentua que "a errónea associação da pirotecnia aos incêndios florestais tem levado a que haja alguma imprevisibilidade relativamente aos espetáculos que estão agendados". É que, mesmo cumprindo todos os requisitos legais e de segurança, "um despacho do Governo emitido numa sexta-feira impede as empresas de trabalharem".
A presidente da ANEPE gostaria que este ano o Governo percebesse que é "uma medida injusta e altamente penalizadora". Insiste que as empresas de pirotecnia são "as primeiras interessadas em que os espetáculos se façam em segurança e que os espetadores os possam apreciar em pleno". Por seu lado, Carlos Macedo critica a "desinformação" que existe. Refere que se nota no facto de "as autoridades policiais e de proteção civil não atuarem com os mesmos critérios", fazendo com que "em concelhos limítrofes sejam tomadas atitudes díspares", o que é "lamentável".
Incêndios
Pirotecnia responsável por 0,5%
A ANEPE, a APIPE e a Associação Portuguesa de Estudos e Engenharia de Explosivos (AP3E) custearam um estudo científico com ensaios reais feito pela Universidade de Coimbra, sobre o emprego de artigos pirotécnicos e a sua relação com a ignição de incêndios florestais. José Carlos Góis, docente da universidade e presidente da AP3E, realça que os dados recolhidos, a partir de 2006, permitiram concluir que os incêndios atribuídos à pirotecnia "representavam menos de 0,5% e o mesmo na área ardida, ou seja, um valor ridículo".
Próximas festas
Senhor de Matosinhos
A romaria está de regresso e vai acontecer de 20 de maio a 12 de junho. A festividade do Senhor de Matosinhos realiza-se há 700 anos e, segundo a Câmara, atrai cerca de dois milhões de visitantes.
Santos populares
O Santo António, em Lisboa, e o São João, no Porto e em Braga, são das festas que mais pessoas juntam em Portugal. Englobam concertos musicais, marchas e imponentes espetáculos de fogo de artifício.
Agonia e Remédios
A Romaria d"Agonia em Viana do Castelo, de 17 a 21 de agosto, e a Senhora dos Remédios em Lamego, de 18 de agosto a 9 de setembro.