As instituições e organizações de combate à pobreza estão preocupadas com o fim das moratórias para famílias e empresas, prevendo um novo aumento dos pedidos de ajuda, depois da situação ter estabilizado com a abertura da economia. Só a Rede de Emergência Alimentar, lançada no início da pandemia, recebeu 28 829 solicitações, em cerca de um ano e meio.
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Ao todo, a plataforma criada pela Entrajuda em articulação com os Bancos Alimentares Contra a Fome, permitiu apoiar 86 708 pessoas, até ao final de agosto, para além das cerca de 380 mil que já beneficiavam da solidariedade dos bancos alimentares. Só à delegação de Braga, por exemplo, chegaram 5890 pedidos de ajuda, que incluíam 2070 crianças. "Temos uma grande comunidade de brasileiros e, na maior parte dos casos, foram pessoas que ficaram desprotegidas, de um dia para o outro", elucida a coordenadora Pilar Barbosa.
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Isabel Jonet, presidente da Entrajuda e da Federação Portuguesa de Bancos Alimentares Contra a Fome, lamenta "a economia paralela". "Cabeleireiras, esteticistas, empregadas domésticas ou de restaurantes, muitas têm trabalhos, mas não têm um contrato. Ficaram sem nada até regularizarem a situação para poderem receber apoios", diz, sublinhando que "abril e maio" do último ano foram "meses horríveis" ao nível de pedidos de emergência.
Seguiu-se "um alívio" com a abertura de escolas no verão, um novo aumento com o confinamento do início deste ano e, depois da abertura da economia ter estabilizado a procura, Isabel Jonet admite que, nas últimas duas semanas, registou-se um novo crescimento. "Acho que tem a ver com a antecipação do fim das moratórias. Há empresas que sabem que não vão poder manter a atividade e já devem ter avisado os colaboradores", assevera a dirigente. "Estamos apreensivos com o que vai acontecer", acrescenta Pilar Barbosa.
Margarida Mendes, do Centro Porta Amiga das Olaias, da AMI, assume a mesma preocupação. "As famílias já estão um pouco sacrificadas e isso ainda vem complicar mais a vida".
No dia em que se assinala o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, Isabel Jonet refere que, em Portugal, o que está a faltar é "uma articulação das respostas sociais". "Uma família que precisa de ajuda deveria ser acompanhada de forma plena, até para evitar fraudes", defende, ressalvando que, ao nível de donativos e voluntariado, a sociedade nunca falhou.
AMI com mais pedidos de ajuda
No primeiro semestre deste ano, os serviços sociais da AMI apoiaram 5478 pessoas, das quais, 768 procuraram apoio pela primeira vez, um aumento de 12% relativamente ao mesmo período do ano passado. Os serviços mais procurados foram os géneros alimentares (72%), o apoio social (44%) e o roupeiro (16%).