Crescimento do desemprego é maior nas regiões de Lisboa e Algarve. Até novembro, há quase mais 100 mil desempregados inscritos no IEFP. Formações ajudam a camuflar este número.
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O desemprego criado pela crise da pandemia não atingiu o território nacional de maneira uniforme. As regiões do Algarve e Lisboa e Vale do Tejo foram as que contabilizaram uma subida maior do número de pessoas inscritas no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), sendo que em 34 concelhos o desemprego subiu mais de 50%. A nível nacional, a quebra de 2,9% no desemprego nos últimos dois meses (menos cerca de 12 mil pessoas) é explicada pela subida das formações e programas ocupacionais.
Há um ano, o concelho de Sintra contabilizava cerca de 8000 desempregados. Agora, o número vai em mais de 14000. A subida de 6000 inscritos no IEFP de Sintra é, em termos absolutos, a maior de Portugal continental. Segue-se Lisboa, com mais 5000 inscritos.
A maioria dos 34 concelhos onde o desemprego subiu mais de 50% está situada no Algarve ou em Lisboa e Vale do Tejo. Alguns são concelhos de média e grande dimensão, como Odivelas, Faro, Loulé, Amadora, Albufeira, Vila Franca de Xira, Loures, Oeiras e Seixal.
Número de desempregados registados no IEFP subiu 30,2% entre novembro de 2019 e novembro de 2020
Entre os 34 concelhos, não há nenhum no Norte. O pior desta região é Felgueiras, que subiu 49%, passando de 1822 inscritos para 2716. Entre os 278 concelhos de Portugal continental, apenas 44 (15,8%) viram o número de inscritos a baixar, ao passo que a subida atingiu 234 municípios (84,2%).
Aumenta quase 100 mil
O desemprego em Portugal no ano 2020 foi fortemente condicionado pela pandemia. Em novembro de 2019, havia 306 mil desempregados registados, ao passo que em novembro de 2020, o último mês para o qual há dados, os desempregados registados são 398 mil. Para esta subida de 92 mil inscritos contribuíram, principalmente, os meses de março e abril, em que o desemprego disparou. Desde abril até setembro o número de inscritos manteve-se estável, mas em outubro e novembro até baixou.
De fora das estatísticas
O fenómeno da descida do número de desempregados explica-se pelo efeito das medidas do Governo, como o lay-off simplificado e sucedâneos. Contudo, a principal explicação está nos programas ocupacionais e em quem os frequenta, que deixa de contar para as estatísticas oficiais.
"Esta tendência tem resultado quer do abrandamento dos fluxos de novas inscrições, quer da aceleração dos fluxos de saída, onde se incluem quer as colocações em emprego, quer os encaminhamentos para medidas ativas de emprego e formação", admitiu ao JN o Ministério do Trabalho.
Nos dois meses em que o desemprego desceu, o número de inscritos em programas ocupacionais para desempregados subiu 32%, passando de 82 mil para 108 mil. Trata-se de um máximo com quase quatro anos, uma vez que é preciso recuar a janeiro de 2017 para encontrar um valor mais alto. O Governo admite que tem havido "um reforço da atividade formativa do IEFP".
José Reis, coordenador do Observatório sobre Crises e Alternativas, admite a necessidade de requalificação: "Temos mão de obra que não vai ser absorvida e que, na verdade, é precisa noutros sítios, em serviços de cuidado às pessoas, nos hospitais, escolas e lares, por exemplo".
À lupa
Turismo afetado
Entre as profissões em que o desemprego aumentou, destacam-se os trabalhadores dos serviços pessoais, muitos ligados ao turismo, com uma subida de 44%.
Mais mulheres
Entre os 92 mil novos desempregados que Portugal ganhou num ano, 51 mil são mulheres e 41 mil são homens. Há uma tendência de diminuição dos licenciados.
Mais formação
As regiões onde o número de inscritos em programas ocupacionais para desempregados mais aumentou foram Lisboa e Vale do Tejo (37%) e Norte (9,4%).
Coletivos
O número de despedimentos coletivos de 2020 foi de 650 até novembro, mais do que em todos os anos do atual governo. É preciso recuar a 2014 para encontrar paralelo (664 despedimentos).
Pequenas e micro
Os despedimentos coletivos oriundos de pequenas e microempresas representaram, em novembro passado, 79% do total. A maioria (59%) foi na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Mais 40%
O número de beneficiários de prestações de desemprego subiu mais de 40%, em novembro, comparativamente ao mesmo mês de 2019. São agora 228 215.