Sardinha há, o problema pode ser a procura e o preço. É com este espírito que a frota parte, esta noite, para o mar, depois de cinco meses de paragem. Este ano, há 37 642 toneladas para pescar (mais oito mil do que em 2022). A ideia é tirar o máximo proveito da quota. Para já, ainda não há acordo com a indústria conserveira, mas as negociações continuam, a fim de assegurar o escoamento.
Corpo do artigo
"Prevejo um dia de muita sardinha e pouco mercado. Temos quota suficiente. Temos é que saber geri-la", afirmou, ao JN, Agostinho Mata, o presidente da Propeixe - Cooperativa de Produtores de Peixe do Norte, que agrega 24 barcos da pesca do cerco, a trabalhar em Matosinhos e Peniche.
Para já, o que se sabe é que "os barcos têm visto muita sardinha no mar". Agora, "tudo vai depender do mercado" e, por isso, o otimismo é "moderado". O ideal seria um preço a rondar um euro por quilo, mas, para isso, é preciso que a sardinha já venha "grandinha e com um teor de gordura razoável". A frota vai partir para o mar à meia-noite, com um limite diário de captura de 200 cabazes (4500 quilos) para as embarcações com mais de 16 metros e paragens obrigatórias aos fins-de-semana e feriados.
No ano passado, havia 29400 toneladas para pescar (a quota mais alta dos últimos dez anos), mas o ano terminou mal para os pescadores. No início de dezembro, com a sardinha a 65 cêntimos o quilo - e, muitas vezes, nem a preços baixos tinha comprador - multiplicaram as imagens de barcos a deitar peixe fora. A frota parou sem esgotar a quota.
A indústria conserveira, que, por falta de sardinha em Portugal, passou anos a abastecer-se em mercados externos, não garantiu o escoamento que os pescadores previam."Tínhamos quota, mas a indústria não estava capacitada e demos com o nariz na porta", explica Agostinho Mata. Este ano, para evitar o cenário, as duas partes estão a negociar com a Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe.
"Há uma margem de 10% que está a inviabilizar o acordo. Estou a fazer um grande esforço. Julgo que há interesse de ambas as partes [em haver contratos de abastecimento entre a indústria e as organizações de produtores], se a indústria subir um bocadinho, nós já dissemos que estamos disponíveis para negociar preços para o verão e preços para o inverno", frisa.
Triplicou em 3 anos
Depois de anos em que mal chegou para três meses de trabalho, a quota da sardinha quase triplicou nos últimos três anos (de 12 700 para 37 642 toneladas). Subiu 112% em 2021, 9% em 2022 e 27% em 2023
Ministra acompanha a partida
No dia 1 à noite, a ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, e a secretária de Estado das Pescas irão ao porto de Sesimbra acompanhar a partida dos barcos. No dia seguinte, almoçam na Figueira da Foz para provar as primeiras sardinhas do ano.