Se o preço do gasóleo continuar a aproximar-se da gasolina ao ritmo registado em 2018 em Portugal, o diesel deixará de compensar, em termos de custo para o consumidor, já em 2021.
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A acontecer, não será nada de inédito: 13 dos 28 países da União Europeia (UE) já comercializam a gasolina a um preço mais acessível face ao gasóleo. Em Portugal, o fosso entre os dois combustíveis reduziu-se em 70% entre 2010 e 2018.
Recuando ao início de 2010 e recorrendo aos dados da Comissão Europeia, constata-se que a diferença de preço entre os dois combustíveis era de 24 cêntimos por litro a favor do diesel. Equivalia, então, a uma poupança, para o detentor de um carro a gasóleo comparativamente ao dono de um veículo a gasolina, de quase 11 euros num depósito de 45 litros.
No dia 28 de janeiro passado, a gasolina custava, em média, 1,413 euros por litro contra 1,345 euros do gasóleo. Uma diferença de sete cêntimos por litro, o que representa uma poupança para o adepto do diesel de apenas 3,15 euros para aquele mesmo depósito de 45 litros.
O estreitamento do fosso entre os preços da gasolina e do gasóleo em Portugal aconteceu pela conjugação de dois fatores: a fiscalidade direta sobre o custo final em bomba foi sempre mais penalizadora para o gasóleo do que para a gasolina e tem-se acentuado; por outro lado, desde há mais de uma década que a pressão da procura de gasóleo na Europa faz aumentar o seu preço antes de impostos.
Analisando a evolução do imposto sobre produtos petrolíferos (ISP) e do IVA, que incide sobre o primeiro, constata-se que o peso fiscal sobre a gasolina aumentou 10,2% entre 2007 e o início deste ano. Olhando para o gasóleo sob o mesmo prisma, o agravamento tributário foi de 33,3% em 12 anos.
Já poderia ser um facto
"A diferença de preço entre o gasóleo e a gasolina não é um problema técnico. À saída da refinaria, os dois têm preços muito semelhantes. Aliás, no quarto trimestre do ano passado, o preço à saída da refinaria do gasóleo (47,6 cêntimos) foi superior ao da gasolina (40 cêntimos). O fosso tem mais a ver com as políticas fiscais. Aliás, se tivéssemos o mesmo ISP nos dois combustíveis, no quarto trimestre de 2018, a gasolina já seria mais barata do que o gasóleo, não fosse o facto de a carga fiscal beneficiar o diesel. Por outro lado, tem havido, nos últimos anos, uma pressão de consumo de diesel na Europa, elevando o seu preço e aproximando-o da gasolina", refere António Comprido, secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (Apetro).
Os carros a gasóleo vão acabar dentro de poucos anos? O ministro do Ambiente e Transição Energética está certo disso. Disse-o de forma clara, na última segunda-feira, e repetiu-o a meio da semana. "Aquilo que eu quis dizer não foi contrariado por ninguém. Aquilo que eu disse e foi que muito provavelmente, daqui a quatro, cinco anos, quem tiver um carro a diesel vai ter um valor mais baixo na sua troca. Ninguém contrariou. É uma tecnologia a descontinuar", afirmou João Pedro Matos Fernandes.
"É uma afirmação precipitada, que ainda por cima mexe com o mercado. Não é possível prever que um carro a gasóleo deixe de ter valor daqui a quatro anos. Isso não vai acontecer. Uma parte significativa dos novos veículos vai continuar a ser a gasóleo", defende António Comprido.
Vantagens e desvantagens do gasóleo
Eficiência - Os motores térmicos são energeticamente ineficientes, mas os diesel transformam em "movimento" cerca de 45% da energia do combustível (cerca de 30% nos motores a gasolina).
Robustez - Os motores são tidos como mais robustos. Desde que corretamente mantidos, atingem sem problemas quilometragens elevadas.
Soluções - Já há experiências para produzir diesel sintético neutro em carbono. Enquanto isso, cada vez mais fabricantes estudam versões híbridas.
Mais caros - A necessidade de construir um motor mais robusto e a elevada tecnologia aumentam o preço das viaturas e da sua manutenção.
Proibição - A proibição de circulação nalgumas capitais europeias lançou o alarme entre os consumidores.
Valor comercial - Será expectável, a médio ou longo prazo, uma baixa no valor comercial dos diesel usados, que só ocorrerá quando começarem a surgir em maiores quantidades unidades com motorizações elétricas ou híbridas.