No espaço de 52 semanas, terminadas a 4 de outubro, a gasolina, que está a custar 1,695 euros por litro, sofreu 38 aumentos de preço e o gasóleo 35, saltando para 1,502 euros por litro.
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O agravamento foi de 31 cêntimos por litro no primeiro caso e de 29 cêntimos no segundo. Amanhã, o gasóleo deverá subir mais 3,5 cêntimos e a gasolina 2,4 cêntimos. Portugal tem a sexta gasolina mais cara da UE-27 e ocupa a sétima posição no diesel.
Em 2008 e 2011, protestos contra os aumentos dos combustíveis ameaçaram parar o país, quando os preços eram equivalentes aos atuais (aplicando a inflação) e o ritmo de subida tinha sido mais suave. A tentar recuperar da pandemia, as empresas reclamam medidas urgentes que travem a escalada de preços. O Governo já está autorizado a fixar margens máximas de comercialização, mas o impacto é incerto.
EXPORTAÇÕES
Somos menos competitivos
Severamente afetadas pela pandemia, as exportações estão a ter dificuldades em recuperar. Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), revela que "as empresas estão a braços com imensas dificuldades, desde a falta de contentores ao aumento das matérias-primas, às quais se juntam o aumento dos custos da eletricidade e dos combustíveis". Se toda a Europa se debate com a eletricidade em máximos históricos, por cá "a maior parte do preço dos combustíveis respeita a impostos" e "o Governo pode intervir".
"Mais de 60% das nossas exportações são feitas por via rodoviária. Há muitos anos que pedimos investimentos na ferrovia, as empresas não podem esperar mais", alertou o presidente da AEP.
As empresas de transportes lideraram protestos em 2008 e 2011 e hoje até têm mais custos, admite Gustavo Paulo Duarte. "Nos últimos 18 meses, os custos com pessoal subiram 35% a 40% e com os combustíveis 25% a 30%", calcula o vice-presidente da Antram, associação das transportadoras de mercadorias. "O setor está no fio da navalha. Tem havido redução de frotas e aumento de preços e a economia tem de assumir esse custo, se não as empresas desaparecem. E estou a ver isso acontecer a um ritmo muito acelerado", resume.
O setor da metalurgia e metalomecânica, que continua "cheio de encomendas" para exportação, é dos que não conseguem repercutir o custo crescente dos transportes e combustíveis no preço final. "O mercado não aguenta. Se aumentarmos preços, ninguém compra", diz Rafael Campos Pereira. "Já estamos afetados pelo aumento das matérias-primas, pelo preço da eletricidade, que quintuplicou, dos transportes marítimos, que triplicou. Portanto, é urgente que alguém encontre soluções porque vai ser impossível manter empresas abertas por muito mais tempo", alerta o presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal.
AGRICULTURA
"A atingir o limite do suportável"
Todo o setor primário está "muito vulnerável a qualquer aumento de custos dos combustíveis", explica, por seu turno, João Dinis, da direção da Confederação Nacional de Agricultores. Apesar do desconto fiscal denominado "gasóleo verde", que reembolsa parte dos consumos de gasóleo no setor, os custos de produção (também afetados pelo aumento da eletricidade) estão em máximos. "Não conseguimos repercutir esses custos no consumidor final", diz o dirigente. "Continuamos com dificuldades de escoamento e temos uma concorrência proveniente da própria União Europeia que o Governo devia travar: batatas "francesas" do Egito e "espanholas" vindas de Marrocos", denuncia João Dinis, para quem bastaria "demorar mais a verificar essas cargas que chegam de navio, para assegurar a proveniência".
Os agricultores "não conseguem chegar às prateleiras dos supermercados", com os aumentos dos combustíveis "a atingir o limite do suportável". João Dinis deposita esperanças nas medidas que o Governo possa tomar no Orçamento do Estado para o próximo ano.
COMÉRCIO
Investimentos sem retorno
A eficiência energética e logística tem orientado os investimentos da grande distribuição, como forma de manter os preços baixos, mas os ganhos estimados foram "comidos pelos aumentos de custos, nomeadamente dos combustíveis", denuncia Gonçalo Lobo Xavier. O diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição alerta que "não é possível continuar a fazer os esforços pela descarbonização e manter o equilíbrio financeiro das empresas com estes aumentos de custos de energia".