Incentivos para compra de veículos "limpos" estão a esgotar-se. Orçamento prevê investimento em 12 novos postos de carregamento ultrarrápido.
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Nem mais um euro para ajudar a comprar carros elétricos. O Governo afasta, para já, aumentar os incentivos para a aquisição de veículos sem emissões, ao contrário do que Espanha e França fizeram nas últimas semanas, em resposta à pandemia da covid-19.
Para este ano, ficou disponível um total de quatro milhões de euros para a compra de carros, motas e bicicletas. Só para os carros, há 3,6 milhões de euros, mais 950 mil euros do que em 2019.
"É um investimento considerável", defende Eduardo Pinheiro, secretário de Estado da Mobilidade, em entrevista ao JN/Dinheiro Vivo. "O Governo português foi proativo. A crise climática não foi apagada pela covid-19, que teve um impacto muito menor nas vendas de elétricos na comparação com veículos a combustão", acrescenta.
Só que a procura está a esgotar os incentivos, o que deverá acontecer ainda antes do final deste semestre. Os 600 mil euros para a compra de carros ligeiros por empresas já esgotaram porque foram aceites as 300 candidaturas permitidas, segundo os dados de sexta-feira do Fundo Ambiental.
Comerciais ligeiros
Há também 2,1 milhões de euros para os particulares comprarem veículos ligeiros: dos 700 "cheques" disponíveis, mais de dois terços (539) já têm dono.
Menos concorridos são os apoios para os comerciais ligeiros: com uma "bagagem" de 900 mil euros para 300 pedidos, ainda só foram aceites 24 candidaturas.
Eduardo Pinheiro recorda que o modelo de apoios "permite alocar as verbas não utilizadas" para candidaturas em espera, o que só costuma acontecer no final deste ano.
Produtores de carros como Portugal, Espanha e França não perderam tempo e responderam à pandemia com mais benefícios: em Espanha, há um apoio até 6500 euros e que ainda pode ser reforçado com um incentivo regional; os franceses dão um apoio de 7000 euros na compra de um elétrico.
Henrique Sánchez, líder da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) defende que deve haver dinheiro para todos os interessados, com uma "ampliação do montante dos incentivos" e a atribuição de apoios "a todas as candidaturas que cumpram os requisitos", sem limite de plafond.
Que incentivos há?
Apesar de o custo de aquisição de um carro elétrico ainda ser elevado para muitos bolsos, há vários apoios na compra e utilização destes veículos. O Estado dá incentivos de três mil euros para a compra de ligeiros de passageiros e de mercadorias a particulares; as empresas também têm um apoio de três mil euros na aquisição de comerciais ligeiros e de dois mil euros na compra de ligeiros de passageiros.
Nos ligeiros só é dado apoio aos automóveis que custem até 62 500 euros. Quem compra um carro elétrico também fica isento do pagamento do imposto sobre veículos.
Mais 12 postos
O Governo vai apostar na infraestrutura, com três milhões de euros inscritos no OE suplementar. "Vão ser instalados 12 postos de carregamento ultrarrápido, num investimento de um milhão de euros, em vias de comunicação mais utilizadas. Também há dois milhões de euros para a criação de 10 hubs de carregamento nas principais cidades", detalha Eduardo Pinheiro.
Pagamentos
Para carregar o carro, é obrigatório o utilizador ter um contrato com um comercializador. Mas esta situação poderá mudar no futuro. "A Mobi.E está a desenvolver um sistema para permitir o carregamento com o cartão Multibanco", segundo o secretário de Estado da Mobilidade. A concretizar-se a medida, emigrantes, turistas e outros utilizadores ocasionais poderão também passar a utilizar os postos de carga.
3000 tomadas
Existem 40 mil veículos elétricos e híbridos plug-in a circular em Portugal e que podem utilizar as 3000 tomadas de carregamento disponíveis na via pública, em postos de carregamento públicos e privados de acesso livre. Também existem redes privadas de carregamento, como os sete superchargers da Tesla, reservados para os donos de veículos desta marca norte-americana.