O fabricante norte-americano de veículos elétricos Tesla anunciou, esta quinta-feira, a maior redução de preços de sempre para o seu Model 3 na China, como parte de uma guerra de preços feroz entre as principais marcas no país.
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A partir de hoje, a Tesla está a oferecer um subsídio de seguro equivalente a cerca de 1100 dólares (1060 euros) e um plano de pagamento de cinco anos sem juros. Esta é a primeira vez que os dois incentivos são combinados. O preço inicial do Model 3 de tração traseira será assim reduzido na China para cerca de 31.200 dólares (30 mil euros).
Os compradores beneficiarão de programas especiais de carregamento para os veículos e serão elegíveis para outros subsídios públicos e ofertas da Tesla no valor de até oito mil dólares (7700 euros).
Nos últimos dias, outras marcas, como a Xpeng, a Nio e a IM Motors, anunciaram igualmente planos de pagamento sem juros, reduções no pagamento da entrada ou reduções de preços em alguns dos seus modelos.
De acordo com fontes do setor citadas pelo portal de notícias Yicai, as vendas das principais marcas em vários concessionários caíram mais de 40% em janeiro, em termos homólogos, afetadas pela aproximação da época alta de dezembro e pelo habitual abrandamento durante o Ano Novo Lunar, a principal época festiva do país.
O secretário-geral da associação de empregadores CPCA, Cui Dongshu, previu que a guerra de preços entre os fabricantes de automóveis na China continuará ao longo deste ano, num contexto de concorrência "extremamente feroz", embora também tenha sublinhado que as vendas poderão aumentar graças ao "plano de renovação" multimilionário promovido pelo Governo, que prevê a atribuição de subsídios na troca de artigos velhos por novos.
Fim de isenções pode subtrair 0,2% ao PIB chinês
O fim das isenções tarifárias sobre produtos chineses avaliados em menos de 800 dólares (770 euros) pode reduzir a taxa de crescimento económico da China em 0,2% este ano, segundo estimativas do banco de investimento japonês Nomura.
Um relatório publicado esta quinta-feira por esta entidade situa o valor dos pacotes enviados por empresas chinesas como a Temu ou a Shein para os EUA, aproveitando a isenção que vigorou até agora, em cerca de 46 mil milhões de dólares (44,2 mil milhões de euros), o que representa 11% do total das importações norte-americanas provenientes da China.
Além do referido impacto no PIB, as taxas de 10% ou outros custos adicionais aplicados a este tipo de pacotes traduzir-se-ão também numa redução de 1,3% no crescimento total das exportações da segunda maior economia do mundo.
A medida anunciada por Trump poderá reduzir em 60% o envio da China para os EUA de mercadorias atualmente enviadas ao abrigo de um mecanismo conhecido como "minimis". Em 2024, as exportações chinesas de embalagens "minimis" enviadas diretamente aos consumidores de todo o mundo atingiram cerca de 240 mil milhões de dólares (230 mil milhões de euros), representando 7% do total das vendas ao exterior e 1,3% do PIB chinês.
Encomendas aumentaram quase 10 vezes em 10 anos
O número de embalagens deste tipo enviadas para os EUA aumentou quase dez vezes entre 2015 e 2024, passando de 139 milhões para 1,365 mil milhões de unidades. Apesar de a isenção ter quase uma década de existência, foi alvo de escrutínio nos últimos anos devido à explosão do comércio eletrónico chinês por empresas como a Shein, a Temu e a AliExpress, parte do gigante Alibaba.
Em 2024, a China registou cerca de 23 mil milhões de dólares (22 mil milhões de euros) em exportações através de pequenas encomendas enviadas para os Estados Unidos, segundo a agência de notícias Bloomberg, que considera que este valor poderá estar subestimado, uma vez que há informações de que as empresas chinesas estão a enviar mercadorias por grosso para o México e a entregá-las em pequenas embalagens destinadas ao país vizinho.
Os retalhistas chineses realizaram campanhas de marketing digital maciças nos EUA, oferecendo um vasto inventário de vestuário, artigos domésticos e eletrónica baratos, colocando-os em concorrência direta com a Amazon, o eBay ou a Etsy.
Em resposta, a Temu apoiou os vendedores chineses na abertura de armazéns nos EUA para lhes permitir enviar produtos localmente e evitar taxas sobre as importações, enquanto a Shein abriu armazéns de distribuição e cadeias de abastecimento nos EUA.
O portal de notícias local Yicai recordou que retalhistas norte-americanos como a Amazon e a Walmart também beneficiaram deste mecanismo: por exemplo, o grupo liderado por Jeff Bezos lançou uma plataforma chamada Haul, através da qual os vendedores podem enviar produtos - todos com um preço máximo de 20 dólares (19 euros) - diretamente da China para compradores norte-americanos.