Há 219 mil pessoas que acumulam ocupações e 733 mil que trabalham para si, o maior número de sempre.
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Os últimos dois trimestres deste ano foram marcados por um aumento significativo no número de pessoas que acumulam dois trabalhos face ao mesmo período de 2020 (com um segundo emprego) e o número de trabalhadores por conta própria (TCO) atingiu o maior valor de que há registo nas séries oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE), que remontam ao início de 2011.
Segundo o mais recente inquérito ao emprego, o número de pessoas com "segundos empregos" aumentou mais de 20% no terceiro trimestre, havendo agora 219 mil pessoas que acumulam dois trabalhos (têm uma atividade secundária).
No trabalho por conta própria, onde se podem encontrar os recibos verdes e a classe emergente dos "empreendedores" mais ligados à economia digital, os números são ainda mais expressivos.
No terceiro trimestre, este grupo aumentou quase 16%, em quase 99 mil pessoas, a maior subida desta série do INE que remonta a 2011. E com este impulso, o número de trabalhadores por conta própria em Portugal atingiu um recorde absoluto.
Durante a pandemia houve alguma destruição deste tipo de empregos, mas depois disso estes mais do que recuperaram e estão muito acima dos níveis pré-pandemia. Nunca houve tantos: o país tem agora 733 mil empregados por conta própria.
Só para se ter um termo de comparação, antes da pandemia, no terceiro trimestre de 2019 (para se poder fazer um cálculo homólogo, onde se evita a sazonalidade), Portugal tinha 666 mil trabalhadores por conta própria. Menos 9% do que agora.
Aliás, o fenómeno é tão relevante que o próprio INE destaca os TCO no seu retrato-robô da evolução atual do emprego no país. "Para a variação homóloga da população empregada contribuíram, principalmente, as variações" no emprego criado entre os homens "aumentou 5,8% (135,9 mil)".
Destaque também para o emprego na população mais adulta "dos 55 aos 64 anos, que registou um acréscimo de 8,9% (75,2 mil)".
A criação de postos de trabalho com pessoas com Ensino Superior completo também é assinalada pelo seu "acréscimo de 17,4%, abrangendo 251,9 mil pessoas", segundo os números do INE.
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Efeito confinamento
Os confinamentos de 2020 afundaram o emprego de forma quase transversal, mas os segundos empregos foram severamente afetados, assim como o trabalho por conta própria.
Precariedade
Estudos indicam que estes trabalhos são mais precários. Numa crise, são os primeiros a serem destruídos. Quando a economia emerge, recuperam mais rapidamente. Os dados do INE mostram que isso aconteceu mesmo.