Serão conhecidas esta segunda-feira as propostas que cumprem requisitos para poder disputar fundos europeus. Até 2030, privados devem investir 8 mil milhões de euros e haverá mil milhões em apoios públicos.
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O Pacote Energia-Clima da União Europeia tem como meta a redução de, pelo menos, 40% das emissões de gases com efeito de estufa até 2030. E o caminho rumo à descarbonização passa pela aposta no hidrogénio, através da qual o Governo estima que sejam gerados, até 2030, entre 8 a 12 mil postos de trabalho qualificado em Portugal. É o que consta da versão final da Estratégia Nacional para o Hidrogénio (ENH), a ser aprovada no Conselho de Ministros de quinta-feira.
"Esta é uma oportunidade para o investimento, a qualificação e a modernização da nossa indústria e do nosso tecido científico e de inovação, e também para a criação de emprego em setores que terão um valor acrescentado bruto em princípio maior, porque vão substituir importações fósseis por produtos endógenos. São boas notícias para o emprego e para os salários", diz, ao JN, o secretário de Estado da Energia, João Galamba.
Estar na linha da frente
Nos próximos dez anos, a ENH contará com investimentos privados a rondar os 7 500 e os 8 mil milhões de euros e apoios públicos num montante próximo dos mil milhões. Tem como projeto-âncora a construção de uma central de produção de hidrogénio verde em Sines, a arrancar em 2022, suportado por uma parceria com os Países Baixos, que também pode vir a incluir a Alemanha.
"Portugal não tem pretensão de liderar. Quer, sim, participar e estar na linha da frente e vê com muito bons olhos um projeto desta natureza, de cadeia de valor estratégico na área do hidrogénio, e que a Alemanha tenha uma posição de liderança. Temos tido conversas nesse sentido com os respetivos governos e com a Comissão Europeia, que está a fazer o trabalho de aproximação entre os países", revela João Galamba.
Houve 74 interessados
Este projeto integrará a candidatura portuguesa ao Projeto Importante de Interesse Europeu Comum (IPCEI) de Hidrogénio. Para a robustecer, o Governo convidou empresas ou entidades portuguesas ou europeias a apresentar projetos de investimento, num processo de consulta ao mercado que resultou na apresentação de 74 manifestações de interesse. A proposta mais avultada (2,4 mil milhões de euros) veio da Bondalti Chemicals, que tem como objetivo produzir hidrogénio verde e amoníaco verde no complexo químico de Estarreja, sobretudo para fins industriais, num projeto a ser implementado até 2040. As que cumprem os requisitos - e, por isso, obtiveram parecer favorável do Comité de Admissão de Projetos - serão oficialmente conhecidas hoje num "infoday".
Está dado mais um passo, diz o secretário de Estado da Energia, para a candidatura ao IPCEI Hidrogénio que Portugal ambiciona integrar este ano: "Queremos tê-la concluída o mais rápido possível e estamos a trabalhar para que, quando a Europa pergunte pelos projetos, nós estejamos lá para os apresentar. Haverá certamente várias levas de financiamento e nós queremos estar na primeira porque será porventura a mais vantajosa", disse.
Contrapartidas das minas chegam às autarquias
O projeto de decreto lei com que o Governo pretende regulamentar a atividade de prospeção, pesquisa e exploração de depósitos minerais no nosso país, com vista a mais exigência ambiental, prevê que as autarquias passem a receber uma parte relevante das contrapartidas financeiras pagas anualmente a Estado (entre 33 e 50%), noticiou ontem o Público. O decreto está em consulta pública ate 31 de julho.
Perguntas e Respostas
O que é o hidrogénio?
É um elemento químico gasoso e não tóxico, o mais abundante do Universo, o mais leve e o que possui o maior valor energético. Não existe em estado livre na natureza, porém é constituinte de quase tudo o que nos rodeia: água, combustíveis, plantas, animais, entre outros.
Como se produz?
A maior parte do hidrogénio (H2) convencional hoje usado em várias indústrias, sobretudo química e petroquímica, é produzido a partir do gás natural, com elevadas emissões de carbono. O H2 verde é produzido a partir da eletrólise da água, com recurso a eletricidade renovável, como a solar ou a eólica. Já é produzido em Portugal pela Galp e pela EDP.
Quais as vantagens?
Pode ser produzido a partir de diversas fontes, com uma razoável eficiência, desperdiçando pouca energia; é facilmente conversível em calor e eletricidade, podendo ser transportado e armazenado em grande escala. Ainda assim, é uma alternativa dispendiosa, que implica custos de transporte e distribuição e é altamente reativo. Lisboa e Gaia querem usá-la para os transportes públicos.