O Centro de Alojamento Social do Porto acolheu, num ano, 444 pessoas em situação de emergência, entre vítimas de violência doméstica e de tráfico humano, desalojados, desempregados e refugiados políticos.
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É uma resposta inovadora que foi criada, em junho do ano passado, pela Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) como alternativa às pensões, explicou ao JN António Tavares. Uma espécie de hotel social, onde as pessoas são alojadas temporariamente, mas com o conforto de um lar.
Num ano, o Centro de Alojamento Social (CAS) Dr. Manuel Martins recebeu quase 500 pedidos de acolhimento e deu resposta à grande maioria (444). O que significa que as 40 vagas - 30 para alojamento temporário (máximo de seis meses) e dez para casos encaminhados pela Linha Nacional de Emergência Social (estada até 72 horas) - estão quase sempre lotadas.
João Vakanda e Ana Rita Mendes chegaram ao Porto, em março. Ela é portuguesa, ele angolano e conheceram-se em França, onde se apaixonaram e tiveram há um ano o pequeno João. Sem emprego, resolveram mudar-se para o Porto, onde tinham a promessa de um teto. No entanto, ao chegarem, confrontaram-se com a indisponibilidade das pessoas que os iriam acolher.
"Vínhamos a contar ter casa. Foi um choque", recorda Ana Rita. Passaram a primeira noite numa pensão e depois foram pedir apoio na igreja do Marquês e, de lá, foram enviados para a Segurança Social. No próprio dia, foram levados para o CAS. "Fomos muito bem acolhidos, mas sabemos que é temporário. Estamos a lutar para arranjar emprego", conta João.
O bebé já está numa creche e Ana Rita vai iniciar uma formação na área da geriatria. João não se cansa de mandar currículos e se apresentar em todos os locais que anunciam empregos. "Em Angola, era pintor, mas também já trabalhei na restauração em França. Faço qualquer coisa".
A falta de casa é o denominador comum à maioria dos utentes. Mas as causas podem ser muito variadas: há famílias despejadas ou que ficaram desalojadas devido a incêndio, mulheres vítimas de violência doméstica ou desempregados sem retaguarda familiar. É o caso de António, 53 anos, que perdeu o trabalho há seis quando a empresa foi vendida. "Toda a vida trabalhei, nunca imaginei precisar de apoio social", conta este vendedor desempregado, que recentemente teve de deixar a casa da irmã. Sem qualquer apoio ou subsídio, só tem um sonho: arranjar emprego. "Novo para a reforma, velho para trabalhar, mas não desisto. Tenho uma promessa de trabalho para setembro e depois vou poder alugar um quarto ou um pequeno apartamento".
Neste momento, não há refugiados políticos no CAS, mas por lá já passaram cinco sudaneses. Três romenos que foram vítimas de tráfico de seres humanos, para exploração laboral, também lá estiveram. E há os casos de imigrantes ilegais de várias proveniências, como Afeganistão.