Empresários admitem recusar reservas se a situação não mudar até ao verão. Cadeia de hotéis está a trazer funcionários do Dubai, Tailândia, Catar e Omã.
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Algarve precisa "de pelo menos 3000 pessoas" para suprir a falta de mão de obra sentida nos hotéis da região, disse ontem ao JN Hélder Martins, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve. Faltam essencialmente chefes de cozinha e empregados de mesa, tendo alguns hotéis já fechado restaurantes por não terem pessoal. Com taxas de ocupação de 90% e 100% para a Páscoa, as unidades hoteleiras não deixaram de aceitar reservas, mas se a situação não melhorar, poderão ter de o fazer.
"No verão, as ocupações são mais elevadas e constantes. Se não conseguirmos ter o número de pessoas necessárias para a operação total dos hotéis, teremos de limitar", antecipa Jorge Beldade, diretor da cadeia de hotéis Tivoli do Algarve, que precisa de 100 trabalhadores. A cadeia, assegura, já paga salários "acima da média" e acredita que o problema de contratação está relacionado com o elevado custo dos alojamentos e a falta de transportes públicos.
Uma opinião partilhada por Pedro Lopes, administrador do Grupo Pestana, que acrescenta que "com a pandemia muitos regressaram à terra natal". "Temos de voltar a captar pessoas, o que poderá demorar um a dois anos", considera. Pedro Lopes revela que precisa agora de "perto de 50 empregados".
"Temos mais dificuldade em encontrar posições específicas, como cozinheiros e chefes de cozinha, colaboradores de mesas e bares", reconhece. Apesar das adversidades, abriu três hotéis no início do mês. "Na Lagoa e em Portimão, há mais mão de obra, em Vilamoura é mais difícil".O administrador do Grupo Pestana diz que o grupo tenta atrair mais funcionários dando alojamento, refeições e seguros de saúde.
Necessidade de formar mais
O diretor da cadeia de hotéis Tivoli do Algarve diz que também vai recorrer a mão de obra estrangeira. "Estamos a trazer pessoas dos nossos hotéis no Dubai, Tailândia, Catar e Omã para trabalharem no verão, mas ainda assim continuamos a ter falta de pessoal", diz.
Para Jorge Beldade, que além da área da cozinha sente falta de empregadas de andares, "é preciso ainda aumentar drasticamente o número de pessoas formadas para suprir as necessidades da hotelaria".
O presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, Hélder Martins, confirma que "a mão de obra especializada é a que está a faltar mais". "Durante muitos anos o Algarve viveu de muita gente que vinha do Centro, Alentejo e Norte, mas nessas localidades abriram muitas unidades e o país hoje tem uma grande oferta de norte a sul", acrescenta.
O líder da Região de Turismo do Algarve, João Fernandes, diz que é preciso "continuar a subir salários, o que tem vindo a acontecer", mas ainda assim "não há pessoas suficientes". "No verão vai ser difícil se não conseguirmos acordos com Cabo Verde e migração do Brasil e Índia, entre outros", frisa.
Entrevistas ao som de DJ e salários acima resolveram
O W Algarve, resort de luxo que vai abrir em maio em Albufeira, apostou em "salários acima da média" e num evento com vista para o mar para contratar 160 funcionários. Reuniram os candidatos junto à falésia, com um DJ e cocktails sem álcool. "Em vez de nos sentarmos numa sala num ambiente de entrevista, as conversas foram ao ar livre. As pessoas sentem-se mais à vontade e conseguem ser elas próprias", diz Ricardo Gomes, diretor de vendas do W Algarve. "Não chamamos empregados, mas "talentos", a linguagem é diferente", explica ainda.