Eletricidade atingiu, esta semana, novos máximos históricos no mercado ibérico, acima dos 150 euros por MWh. Já há empresas a sentir os efeitos.
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A subida do preço da eletricidade no mercado grossista de Portugal e Espanha está a gerar grande preocupação junto das empresas mais dependentes deste recurso. É o caso da têxtil, da metalomecânica ou das cimenteiras, entre outras indústrias. Tudo depende do contrato em vigor, mas há já muitas empresas a sentir os efeitos destes aumentos e a pedir ao Governo que tome medidas.
Na sexta-feira, a eletricidade atingiu, no Mercado Ibérico de Eletricidade (Mibel), um valor médio de 152,32 euros por megawatt hora (MWh), o mais alto de sempre. O preço baixou hoje, mas tudo indica que, para a semana, voltará a disparar.
"É um problema muito grande, sobretudo para a indústria têxtil, em que a energia tem um peso muito grande nos custos de produção, designadamente em atividades como a fiação, a tecelagem ou os acabamentos", diz o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP). Mário Jorge Machado especifica que, para muitas empresas, a fatura de eletricidade chega a valer cerca de 20% dos custos de produção.
"O assunto é complexo e envolve muitas variáveis, mas, ainda há dias, comentava com o nosso comercializador de eletricidade - há dez anos que compramos energia 100% verde - que nem o vento, nem o sol ficaram mais caros", ironiza.
Pesa 35% a 40% no custo
O tema esteve na agenda da reunião que a ATP e a Anivec tiveram, esta semana, com o ministro da Economia: "O ministro disse-nos que tem consciência do impacto negativo que esta situação tem sobre a indústria portuguesa e que o Governo está a estudar soluções", afirma Mário Jorge Machado. A questão é que o Mibel é um mercado marginalista. Significa que a última central de produção chamada a suprir as necessidades da procura é aquela que determina o preço para uma determinada hora no mercado diário.
Carlos Medeiros Abreu, administrador da Secil e presidente da APIGCEE , defende, precisamente, que o Mibel precisa de ser melhorado: "Não há mercados perfeitos, mas é tempo de os governos atuarem. É preciso olhar para os mercados e ver como se podem repercutir melhor os preços da operação", defende.
Para este responsável, é vital que essa mudança seja feita, caso contrário é a própria descarbonização que está em risco. "Se o preço da eletricidade não baixar, como é que as empresas vão fazer a descarbonização? Não é possível, não quando, em poucos meses, o preço praticamente triplicou".
No caso específico da Secil, a energia elétrica pesa 35% a 40% do custo variável da empresa. A cimenteira tem um contrato anual, mas reconhece que, a manter-se a situação, vai acabar por sentir o aumento. "O problema não existe só hoje, vai continuar a existir daqui a uns meses", diz.
Pouparam milhões
Também a metalurgia e a metalomecânica estão fortemente dependentes da fatura energética e, por isso, já há mais de uma década que a associação do setor, a AIMMAP, promove a compra conjunta de eletricidade, como forma de ajudar as empresas a baixar custos. "Este ano, por esta via, as empresas pouparam vários milhões de euros", diz Rafael Campos Pereira.
Só este ano houve mais de 300 associados a recorrer ao leilão promovido pela associação e têm o preço fixo até abril de 2022. Mas há quem não tenha aderido e esteja a atravessar momentos de grande preocupação.
"Não só estamos confrontados com este aumento brutal dos preços, como somos o país da Europa com preços mais altos nas tarifas de acesso. É o momento de pensar onde é possível cortar nas tarifas de acesso e nos custos administrativos para ajudar as empresas".