Investigação sobre "offshores" contou com 86 jornalistas em 46 países durante 15 meses
A organização internacional de jornalismo de investigação, que esta quinta-feira divulgou um relatório sobre empresas e fundos 'offshores', contou com o trabalho de 86 jornalistas de 46 países, que cobriram informações com quase três décadas.
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"Nunca vi nada assim. Este mundo secreto foi finalmente revelado", afirma, citado pelo International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ), Arthur Cockfield, um professor de direito e especialista em fiscalidade na Queen's University no Canada, que investigou alguns documentos.
"A crise financeira continuada na Europa tem sido alimentada por um desastre financeiro grego, exacerbado por fraudes fiscais efetuadas e promiscuidades do sistema bancário no pequeno paraíso fiscal cipriota, onde os balanços dos bancos locais foram engordados com transferências colossais de liquidez da Rússia", sublinha a organização.
O largo fluxo de dinheiro colocado em sociedades offshore - legal e ilegal, em nome individual ou de empresas - "pode disturbar economias e colocar países uns contra os outros", acrescenta o ICIJ, reforçando a importância da investigação agora revelada.
A investigação do ICIJ -- levada a cabo durante 15 meses -- descobriu que as transações legais coexistem com as ilegais e que o secretismo e ausência de mecanismos de regulação de que gozam os paraísos offshore favorecem e alimentam a fraude, evasão fiscal e corrupção política.
Os ficheiros obtidos pelo ICIJ revelam as táticas e estratégias que empresas de serviços em offshores, assim como respetivos clientes usam todos os dias para manter empresas offshore, os fundos e os seus donos na sombra.
Os documentos fornecem ainda eventuais novas pistas para muitas investigações frustradas de crimes e rasto de "dinheiro sujo".
O ICIJ recorda que os estudos apontam para que o montante global de "dinheiro sujo" proveniente de crimes fiscais e outros se situe entre 1 e 1,6 biliões de dólares por ano.
Por outro lado, e ainda que o anonimato característico do mundo dos 'offshores' torne difícil seguir a pista do dinheiro, um estudo assinado por James S. Henry, antigo economista-chefe na consultora McKinsey & Company, considera que os indivíduos mais ricos do mundo possuem entre 21 e 32 biliões de dólares - um montante equivalente a peso combinado das economias norte-americana e japonesa - em contas alojadas em paraísos fiscais.