O ministro das Finanças irlandês, Michael Noonan, também considerou que as novas regras decididas na semana passada para a ajuda à Grécia constituem um "caso único", descartando para já reclamar idêntico tratamento.
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Ao ser questionado, à chegada a uma reunião do Eurogrupo em Bruxelas, sobre a aparente falta de interesse de Dublin em reclamar as mesmas condições que foram concedidas a Atenas e sobre a "porta deixada aberta" nesse sentido pelo presidente do Eurogrupo para Portugal e Irlanda, Noonan afirmou: "A Irlanda não é a Grécia, a situação grega é totalmente diferente daquela da Irlanda, e o pacote concebido para a Grécia é único para a Grécia, e tem condições muito onerosas associadas".
O ministro disse que "há muitas coisas que não se aplicam à Irlanda", podendo eventualmente Dublin estar atenta a possibilidades como as referidas pelo ministro português Vítor Gaspar, no Parlamento, sobre taxas de juros normais para o dinheiro do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e extensão das maturidades dos empréstimos por 15 anos, mas num horizonte mais longínquo, de regresso aos mercados.
Por fim, Michael Noon considerou que a porta deixada aberta pelo presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, sobre Portugal e Irlanda - os outros países sob programa - virem a beneficiar de igual tratamento, não passou de um mal-entendido.
Na semana passada, a zona euro e o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegaram enfim a um acordo sobre a revisão da ajuda à Grécia, tendo então Juncker indicado que os outros países sob programa deveriam também beneficiar das novas regras para os empréstimos concedidos à luz do fundo europeu de estabilização financeira, o que seria discutido na reunião de hoje.
"Tomámos a decisão há meses, ou mesmo há mais de um ano, que temos que aplicar as mesmas regras aos outros países sob programa, e iremos abordar isso na próxima reunião. Se há alguém nesta sala que é amigo de Portugal e da Irlanda, que fazem parte dos meus países preferidos na Europa, por razões óbvias, sentimentais e pessoais, sou eu. Portanto, o assunto será tratado de forma a que nem Portugal nem Irlanda fiquem insatisfeitos", disse na altura o líder do Eurogrupo.
Todavia, um alto responsável europeu afirmou na sexta-feira que a extensão das novas regras a Lisboa e Dublin não está sobre a mesa, argumentando que a Grécia é "um caso único" e que as condições acordadas na última reunião do Eurogrupo foram também "únicas", além de que Portugal e Irlanda já beneficiaram de um "bónus", ao ficarem isentos da redução dos juros cobrados a Atenas nos empréstimos bilaterais e da transferência dos lucros dos bancos centrais nacionais nos programas de compra de dívida.
Vítor Gaspar disse na passada terça-feira, na Assembleia da República, que Lisboa e Dublin iriam beneficiar do "princípio de igualdade de tratamento", e no domingo foi o próprio primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho que afirmou que as novas condições de financiamento da Grécia se aplicam parcialmente a Portugal e à Irlanda e que o Eurogrupo decidirá, a seu tempo, "e sem qualquer ansiedade", os termos dessa igualdade de tratamento.
Segundo Passos Coelho, "o acordo que foi atingido em Bruxelas tem uma componente específica para a Grécia", que "não se aplica a quaisquer outros países"", mas há "uma outra componente que não está relacionada diretamente com esse programa para a Grécia, e que tem que ver com o acordo quadro no qual se baseia o instrumento mais importante que a União Europeia tem na gestão de crises financeiras em vigor, que é agora o Mecanismo Europeu de Estabilidade".
Entre as novas medidas concedidas à Grécia, contam-se uma descida de 100 pontos base da taxa de juro cobrada nos empréstimos concedidos bilateralmente, uma extensão em 15 anos dos maturidades dos empréstimos e uma redução de 10 pontos base das comissões pagas pelos empréstimos do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, assim como uma extensão, por dez anos, do prazo para Atenas pagar os juros dos empréstimos.
Já hoje, os ministros das Finanças da Alemanha e de França desaconselharam Portugal a beneficiar das novas condições acordadas para o empréstimo à Grécia.