Na cerimónia dos 20 anos da sua atividade editorial, o economista Jaime Quesado alertou para os impactos da inteligência artificial e da transformação tecnológica na governação e nos mecanismos de poder. Especialistas presentes alertaram para a necessidade de associar talento, responsabilidade e criatividade na construção de valor.
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O economista e gestor Jaime Quesado assinalou, na quinta-feira, no CEIIA, em Matosinhos, os 20 anos da sua atividade editorial com uma sessão sob o mote "Construir o Futuro com Confiança". Perante uma plateia de empresários, académicos e decisores, apresentou a lição "20 Anos: Um Propósito com Confiança", refletindo sobre duas décadas de publicação de livros e ensaios, sempre com um olhar crítico sobre os caminhos da economia e da sociedade. A ideia central do ensaio foi clara: não há futuro possível sem um sentido partilhado de propósito e confiança, valores que devem ser vividos no seio das comunidades e que exigem um compromisso intergeracional.
Quesado alertou ainda para os impactos da inteligência artificial e da transformação tecnológica na governação e nos mecanismos de poder. Na sua visão, o processo de centralização que hoje se verifica impõe devolver à sociedade civil um papel ativo de intervenção, sob pena de a inovação acentuar desigualdades em vez de as reduzir. Esta leitura abriu espaço ao debate que se seguiu, onde vários convidados sublinharam a necessidade de associar talento, responsabilidade e criatividade na construção de valor.
Uma nova dimensão humana
José Teixeira, presidente da DST, defendeu que as empresas e os seus gestores terão um papel decisivo nesta nova agenda de confiança. Para o responsável, a economia precisa de uma nova dimensão humana, sustentada em modelos de integração positiva, que permitam às organizações atuar como comunidades responsáveis e abertas. Só assim será possível firmar um contrato de confiança entre gerações, capaz de dar solidez e sustentabilidade ao futuro coletivo.
Já Mariana Salvaterra, CEO em Portugal da multinacional suíça Zühlke, reforçou que a combinação entre talento e tecnologia estará no centro da criação de valor. Num contexto global e competitivo, a capacidade de dinamizar redes inteligentes de colaboração, com impacto local, mas presença internacional, será determinante para escalar soluções que façam a diferença na vida das pessoas. A gestora destacou ainda a importância de construir ecossistemas inovadores que atraiam e fixem competências, garantindo que o país participa ativamente na economia digital.
A arquiteta Andreia Garcia acrescentou uma perspetiva cultural, lembrando que as pessoas são a alma que dá identidade à sociedade. Para ela, se a confiança deve ser a base de uma comunidade aberta e participativa, a aposta na inovação e na criatividade é inescapável. Só assim será possível projetar uma sociedade moderna, capaz de responder aos desafios do presente sem perder de vista a dimensão humana.
A sessão no CEIIA marcou, assim, não apenas a celebração da trajetória de Jaime Quesado como autor, mas também um momento de reflexão sobre os dilemas e oportunidades do nosso tempo. Entre a aceleração tecnológica e a necessidade de reforçar laços sociais, a mensagem foi unânime: o futuro não se constrói apenas com ferramentas digitais ou com índices de competitividade, mas com confiança, propósito e responsabilidade.