A Associação Link e a Cáritas vão propor ao Governo que crie uma tabela de IVA especial para os negócios sociais. Para Luísa Villar, presidente daquela associação sem fins lucrativos que faz marketing de causas, não faz sentido aplicar a tabela normal de IVA a produtos feitos com trabalho voluntário cuja venda reverte para financiamento solidário.
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Luísa Villar refere-se aos produtos que muitas instituições de solidariedade social fazem e vendem para angariar fundos, dando como exemplo os artigos em tricô e os livros que a Associação Link também comercializa,
"O Estado não dá dinheiro às instituições, elas não ganham dinheiro, mas quando fazem estes negócios para se financiarem, e que têm custo zero, têm de pagar impostos. Não faz sentido", disse Luísa Villar ao JN. "Em alguns casos, quando se aplica a taxa máxima, quase um quarto do valor vai para o Estado porque se paga 23% de IVA", acrescentou.
Já houve encontros informais com alguns deputados da Assembleia da República, para apresentar os fundamentos da proposta. "As instituições não estão à espera que o Estado lhes dê dinheiro e têm de trabalhar para a sua sustentabilidade, mas não é para ficarem ricas, é para ajudar as pessoas", disse a presidente da Associação Link.
Seis milhões angariados
A Link nasceu em Lisboa, há quatro anos, quando Luísa Villar, profissional de Marketing com uma carreira internacional, percebeu que podia usar a sua experiência para facilitar a relação entre instituições com necessidades e mecenas com dinheiro, bens ou conhecimento para lhas solucionar.
Já angariou seis milhões de euros em campanhas de marketing de causas, tendo a mais recente delas viabilizado a construção da primeira unidade hospitalar de cuidados continuados e paliativos para crianças, em S. Mamede de Infesta, Matosinhos. A obra nasceu da determinação de duas enfermeiras dos cuidados neonatais do Centro Hospitalar do Porto, fundadoras da Associação No Meio do Nada.
Numa parceria com o Lidl, a rede de supermercados que acolheu a campanha Arredonda durante dois meses e contribuiu ainda com cerca de 100 mil euros, foi possível angariar à volta de um milhão de euros para construir o Kastelo - assim se vai chamar a unidade. A campanha Arredonda, que angariou fundos para outras obras - no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, por exemplo - foi uma criação de Luísa Villar. É o exemplo do que faz o marketing de causas. A Link recebe muitos pedidos de ajuda por dia, indica a sua presidente. "Este marketing nasceu com a crise porque a falta de dinheiro levou as instituições a reinventarem-se", disse. Até há alguns anos, as IPSS não pensavam em formas de "vender" a sua imagem.
Falta trabalho em equipa
O elevado número de instituições de solidariedade em Portugal torna esse trabalho difícil. Luísa Villar olha para esse facto com preocupação. "Haver muitas instituições é péssimo, é sinal de que os portugueses não sabem trabalhar em equipa. Só em Lisboa, há onze instituições a fazer o mesmo trabalho com os sem-abrigo", aponta.
"Há 50 mil instituições em Portugal, mesmo que só houvesse 1% deste número, eram 500. Qual é o setor da economia que tem 500 concorrentes? Não existe", aponta a presidente da Link. "O maior desafio do terceiro setor é aprender a trabalhar em conjunto", declara.v