Apesar de os ganhos dos seis principais bancos terem quase duplicado para 1,9 mil milhões de euros até setembro, o setor recusa falar em lucros excessivos e alerta para a necessidade de melhorar ainda mais a rentabilidade.
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O crescimento da economia e, em parte, a subida das taxas de juro impulsionaram os lucros dos bancos portugueses. Nos primeiros nove meses do ano, os ganhos dos seis maiores bancos a operar em Portugal quase duplicaram face ao período homólogo de 2021. No total, o BCP, BPI, CGD, Banco Montepio, Novo Banco e Santander alcançaram resultados de 1,9 mil milhões de euros, o que traduz um aumento de 83,4%. A redução de imparidades e o aumento da margem financeira, apesar de ainda não refletir na sua totalidade a subida das taxas de juros, justificam esta evolução. Mas, apesar da forte escalada dos resultados, os bancos recusam falar em lucros excessivos e referem uma rentabilidade ainda baixa, que precisa de ser reforçada.
Entre os privados, o Novo Banco foi o que registou os maiores ganhos: 428 milhões, quase o dobro. Mas o banco público continua a ser o que soma o valor mais elevado, tendo alcançado entre janeiro e setembro 692 milhões, um crescimento de 61% face ao mesmo período do ano anterior. O cenário foi transversal já que todos os bancos melhoraram os resultados este ano. Isso deve-se, em grande parte, à redução das imparidades e das provisões. O crescimento da economia este ano permitiu ao setor melhorar a qualidade dos ativos e até libertar algumas das imparidades que foram constituídas durante a pandemia e cujas perdas acabaram por não de materializar.
Outros dos fatores que contribuíram para o disparo dos resultados foi o aumento da margem financeira. Em média, este indicador que mede a diferença dos juros que o banco paga para se financiar e cobra nos empréstimos, subiu 16,6% para 3,9 mil milhões de euros, de acordo com as contas do Dinheiro Vivo. Uma melhoria que já começou a sentir o efeito da subida das taxas diretoras, apesar de alguns banqueiros terem referido que esse impacto ainda não se sentiu de forma preponderante nas contas. A estimativa é que comece a espelhar esta situação na sua totalidade nos próximos trimestres. "Em Portugal, o efeito da subida das taxas de referência do BCE tem vindo a repercutir-se gradualmente na margem financeira do retalho", explicou Paulo Macedo, CEO da CGD, na apresentação das contas dos nove primeiros meses do ano. Já o Santander, que viu a sua margem financeira recuar 1,8%, adianta que a subida das taxas deverá ganhar mais peso a partir do início de 2023.
Também as comissões bancárias continuaram a sua trajetória ascendente, tendo aumentado cerca de 9% para mais de 2 mil milhões de euros. Uma evolução que não se deveu ao aumento dos preços cobrados pelos bancos, mas sim, ao número de transações e subscrições de serviços. Apesar desta subida e da melhoria da margem financeira, a diminuição das comissões não está nos planos de curto prazo. "Não vejo racional para a comissões descerem, desde que o cliente percecione que o serviço gera valor", disse Miguel Maya. O presidente executivo do BCP, que falava na Money Conference, assegurou, contudo, que a atualização do preçário "não vai acompanhar a inflação em termos gerais". Uma posição partilhada pelo Novo Banco e pela CGD.
Apesar dos ganhos de 1,9 mil milhões, todos os bancos recusam falar em lucros excessivos e queixam-se da elevada carga fiscal que já têm. E defendem que o que é preciso é assegurar que se alcancem níveis de lucros que permitam remunerar o capital. O que, segundo a Associação Portuguesa de Bancos (APB), ainda não acontece. "Para assegurar a remuneração do capital empatado na banca, cerca de 40 mil milhões, é preciso que os lucros gerados sejam, no mínimo, de 3 mil milhões", disse Vítor Bento em entrevisto ao Expresso. Face a estas contas, o presidente da APB alertou que os bancos têm de melhorar ainda mais o indicador que mede a rentabilidade dos capitais próprios.
Depósitos crescem 7%
A banca continua a atrair depósitos, e a um ritmo mais alto, uma tendência que reflete já alguns sinais da inflação com o arrefecimento dos empréstimos à habitação e consumo, mas principalmente de empresas. No total, os montantes dos créditos concedidos (particulares e empresas) registaram uma ligeira subida de 0,8%, para 176 mil milhões de euros. Por sua vez, os depósitos - ferramenta de poupança preferida dos portugueses - cresceram 7%, para 246 mil milhões . Isto apesar de as taxas de remuneração oferecidas estarem longe de acompanhar a subida das Euribor. Quando é que irão subir? "A seu tempo", como respondeu João Pedro Oliveira e Costa, presidente do BPI. Uma posição praticamente unânime entre os restantes banqueiros que não dão sinais concretos de melhorar a atratividade destas aplicações.
O setor também continua a cortar na dimensão da estrutura. O número de balcões e trabalhadores voltou a encolher nos últimos 12 meses, com estes seis bancos a cortarem 5,7% dos balcões para 2145 agências e 4,7% dos quadros de pessoal, fechando setembro com 28 522 trabalhadores.