Os economistas não acompanham o optimismo do Governo sobre o crescimento da economia no 1.º trimestre. Os números ontem divulgados surpreenderam, mas há dúvidas sobre a sua sustentabilidade e teme-se o efeito das medidas de redução do défice.
Corpo do artigo
Tanto na comparação homóloga como em cadeia, Portugal destaca-se na "fotografia" da União Europeia e da Zona Euro sobre a evolução da economia. Dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e pelo Eurostat mostram que a economia portuguesa foi a que mais cresceu no 1.º trimestre do ano, recuperando 1,7% face ao trimestre homólogo do ano passado e 1% face aos últimos três meses de 2009. As exportações e a procura interna terão sido os "motores" deste crescimento.
O desempenho da economia foi destacado por José Sócrates e por Teixeira dos Santos, com o primeiro-ministro a salientar que Portugal registou o maior crescimento da Europa e a precisar que os números mostram que o nosso país está a recuperar, depois de ter sido também o primeiro a sair da condição de recessão técnica.
O optimismo do Governo não tem eco junto dos economistas que alertam que os números (ainda provisórios) divulgados comparam com trimestres (homólogo e anterior) em que a queda do PIB foi muito acentuada. Além do mais, receiam que o crescimento, ainda que surpreendente, possa ser "travado" com as fortes medidas de combate ao défice que o Governo tem ainda de adoptar.
"Teremos de esperar para ver se é um fenómeno esporádico ou se estamos perante uma retoma sustentada", disse ao JN Jorge Santos, prof. no ISEG, que salienta ainda que as medidas de "travagem" do défice podem pôr em causa o crescimento nos próximos meses. Também Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI, admite que não há dados suficientes que permitam concluir se este crescimento foi ou não "circunstancial". Sublinha, no entanto, os "indicadores positivos" subjacentes a esta evolução do PIB, nomeadamente, o crescimento das exportações nos mercados mais tradicionais, como os Estados Unidos, e também uma melhoria do indicador de confiança.
Esta confiança, ancorada também nas baixas taxas de juro que dão alguma folga orçamental às famílias e na inflação baixa (ver texto em Economia), poderá alterar-se na sequência das medidas restritivas (do lado da receita e da despesa) que o Governo se prepara para aprovar. Já as exportações poderão beneficiar da recuperação de outros mercados e também da desvalorização do euro.