
Arquivo/JN
Região atravessa fase de transição para um modelo económico no qual o tipo de qualificações procuradas até há pouco não têm lugar no mercado laboral.
Portugal e o Norte vivem longe do pleno emprego do início do milénio, quando estavam próximos da meta definida com Bruxelas para 2020. A lenta transformação da economia - que produzia bens sem valor acrescentado, depois concentrou-se na construção de infraestruturas e tenta agora voltar-se para a indústria de alvo rendimento - está a deixar milhares de pessoas num limbo laboral. A crise, a austeridade e o aperto no crédito bancário são outros entraves a que a economia cresça e, assim sejam criados novos postos de trabalho, que ajudem a substituir os antigos empregos que a própria tecnologia torna obsoletos.
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Para o mercado de trabalho, a consequência tem sido uma: o desemprego entrou na casa dos dois dígitos em 2009 e ainda não de lá saiu, apesar das muitas pessoas que "simplesmente deixaram de procurar trabalho ou emigraram", explica Aurora Teixeira, professora na área do Trabalho na Faculdade de Economia do Porto. É certo que algumas profissões empregam mais. É o caso das tecnologias da informação e comunicação, saúde ou cuidados pessoais (pode ver uma infografia comparativa no site do JN). Falta é saber da qualidade do novo emprego, ressalva Elísio Estanque, professor na Faculdade de Economia de Coimbra.
No global, os empregos criados são precários. No Norte, hoje há menos 64 mil contratos permanentes do que havia no início da década; mas há mais 73 mil contratos a prazo. No resto do país, houve quase uma troca direta de contratos estáveis substituídos por precários.
A tendência nem é só portuguesa nem contribui para um crescimento sustentado da economia, asseguram os professores. Elísio Estanque aponta para o exemplo do norte e centro da Europa para assegurar que é possível conciliar competitividade com relações de trabalho estáveis. Reconhece as dificuldades com que muitas empresas se deparam, sobretudo as pequenas e médias, mas diz ser preciso "quebrar um ciclo vicioso": as empresas contratam de forma precária e mal paga porque não são competitivas e não inovam em produtos e organização porque não têm mão de obra qualificada e motivada, diz.
Precisamente a falta de qualificação técnica foi salientada por Aurora Teixeira. "Somos mais escolarizados do que nunca, mas não nas componentes técnicas de que as empresas precisam". O ensino profissional no Secundário "caiu completamente" e o "Politécnico tende a parecer-se mais com o universitário", critica, dando razão às empresas que se queixam de que precisam, não de trabalhadores com mais anos de escola, mas de pessoas com conhecimentos técnicos, que contribuam para o crescimento da produtividade.
É também por isso que os salários são menores na região mais exportadora do país que no resto do país. Em 2014, no Norte, o ganho médio bruto era de 967 euros. Em Portugal, já se ganha acima de mil euros desde 2008. E, descontando a inflação, vê-se que no ano passado no Norte se ganhava menos 2,5% do que em 2011. Mesmo o salário nacional é baixo comparando com a Europa. "Até a Grécia, depois de todos os cortes dos últimos anos, continua a ter salários mais altos do que os portugueses", assegura Elísio Estanque.
