Automóveis importados já correspondem a mais de um terço das vendas das unidades saídas da fábrica. São maioritariamente movidos a gasóleo e têm entre dois e sete anos.
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Motor 1.6 a gasóleo com cinco anos e meio de matrícula. Este é o perfil de um carro usado importado em Portugal, o único ramo do comércio automóvel que cresceu no ano passado e que até contou com um impulso dos trabalhadores ligados aos transportes tipo Uber (TVDE). As vendas de ligeiros de passageiros novos caíram 2% no ano passado.
Em 2019, foram importados 79 459 automóveis em Portugal, mais 2,9% do que no ano anterior, segundo os dados divulgados pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP). Estes usados já representam mais de um terço do mercado nacional.
"Há cada vez mais particulares a importar veículos do estrangeiro porque pagam menos impostos do que os vendedores profissionais", explica Vítor Gouveia, presidente da Associação Portuguesa do Comércio Automóvel (APDCA).
A importação destes veículos acelerou na última década: em 2009, os importados correspondiam a 13,6% dos novos.
"As gestoras de frotas também estão a começar a usar canais próprios para vender os usados, o que reduz a oferta nacional neste mercado", acrescenta.
Na hora de ir buscar carros ao estrangeiro, o gasóleo é o combustível dominante, com 80% das importações. Nos novos, a quota de mercado da gasolina (49%) suplantou o diesel (40%), em 2019.
Os carros a gasolina ficam com 14% do mercado, enquanto as energias alternativas ficam com uma fatia de 6%.
Menos cilindrada
Os portugueses preferem veículos entre 1501 e 1750 centímetros cúbicos, representando mais de um quinto deste mercado. A seguir, a preferência recai sobre os automóveis entre 1251 e 1500 centímetros cúbicos.
"A fiscalidade beneficia a importação e legalização de carros com mais idade e com menos cilindrada", argumenta Vítor Gouveia. À conta da menor cilindrada, o leque de marcas importadas já não se resume às do segmento superior, como BMW, Mercedes e Audi. A culpa é dos motoristas que trabalham para os parceiros da Uber, Bolt e Kapten, vulgo TVDE.
"Temos alguma quota de compradores que trabalham para as novas plataformas de transporte de passageiros e que apostam em carros com dois ou três anos de marcas como a Fiat, Opel e Renault". Para os próximos anos, a APDCA antecipa um abrandamento da importação de usados, "acompanhando a estabilização da compra de automóveis novos".
Em todo o país, há 6,5 milhões de automóveis a circular. Metade dos veículos é movida a gasolina; 48% são abastecidas a gasóleo; 2% são movidas a energias alternativas. Entre os automóveis em circulação, uma em cada seis unidades conta com mais de 20 anos. Há mais de um milhão de veículos em Portugal que foram fabricados no século passado.
Carros estão cada vez mais velhos e já têm quase 13 anos
Em média, cada carro ligeiro a circular em Portugal em 2019 tinha 12,7 anos, o que corresponde a um envelhecimento face aos 12,6 anos registados nos dois anos anteriores. Em 2009, cada um destes automóveis tinha 9,6 anos. O cenário é mais grave se olharmos para outras categorias de automóveis: nas mercadorias, cada unidade tem uma média de 13,8 anos; nos camiões, são 14,7 anos; os autocarros são os mais velhos, com 14,9 anos. Além de mais emissões poluentes, estes veículos contam com menos dispositivos de segurança e menos recursos para proteger os ocupantes em caso de acidente.
Detalhes
Abate com apoio
O regresso do programa de incentivo ao abate de veículos pode aumentar as receitas fiscais em 83,5 milhões de euros. 25 mil automóveis, com mais de 23 anos, poderiam beneficiar da medida, diz a ACAP.
Dedução de gasolina
Tal como no gasóleo, a ACAP defende que as empresas possam deduzir o IVA da gasolina. A partir de 1 de março, os táxis vão poder deduzir essas despesas, graças a uma proposta apresentada pelo PCP.
Harmonização fiscal
Durante a presidência portuguesa da UE, em 2021, a ACAP quer reabrir o processo de harmonização fiscal.