O Governo tem "pouquíssima margem de manobra" mas podia "acabar com o IRC", disse o antigo ministro das Finanças Miguel Beleza.
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"Podíamos quase acabar com o imposto sobre as empresas, o IRC", que "dá pouco" rendimento ao Estado, disse à agência Lusa o economista Miguel Beleza, que foi também governador do Banco de Portugal.
Questionado quanto ao que o Governo poderia fazer para estimular a economia, Miguel Beleza disse que neste momento qualquer executivo teria uma margem de manobra "muito limitada": "Dois pontos percentuais aqui, um acolá, estamos a falar de [pequenos ajustes]. Só haveria mais margem se um dos parceiros quiser dar em vez de emprestar, mas isso não é provável nem seria justo."
Apesar disso, "há outras coisas que se pode fazer e valia a pena", embora correndo o risco de "as pessoas acharem que era uma injustiça".
Uma dessas coisas seria eliminar o IRC, cujo rendimento para o Estado é relativamente diminuto, disse Beleza (segundo dados da Direção-Geral do Orçamento, nos primeiros oito meses deste ano o IRC valeu 11,8% da receita fiscal do Estado).
"Quando a gente aumenta o IRC ou qualquer outro imposto sobre as empresas, as pessoas pensam que quem está a pagar esse impostos são os grandes capitalistas", continuou Beleza. "Não temos a menor garantia. Em muitos casos, a empresa consegue repercutir esse imposto subindo os preços, pagando menos aos trabalhadores, 'espremendo' os fornecedores."
Pelo mesmo motivo, Beleza duvida da eficácia da nova taxa sobre transações financeiras que o Governo propôs. "Quem é que me diz que os bancos vão ficar quietinhos (...) que quem paga não vão ser clientes e depositantes?", continua.
O antigo ministro das Finanças de Aníbal Cavaco Silva propõe "cobrar impostos sobre acionistas, não sobre empresas", e sobre "banqueiros, não sobre bancos".