Família destaca os "mais de 45 anos de enorme dedicação" à empresa e o "enorme legado que deixa". A Aveleda é o maior produtor e exportador da Região dos Vinhos Verdes, com mais 150 anos de atividade
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Morreu, aos 83 anos, António Guedes, o patriarca da Quinta da Aveleda, empresa com um legado de mais de 150 anos na produção e venda de Vinho Verde e que é hoje o maior produtor e exportador da região. Em comunicado, António e Martim Guedes, os atuais líderes da companhia, sublinham que, "com mais de 45 anos de enorme dedicação a esta casa e a esta família", António Guedes "deixou uma grande obra feita e deixa-nos hoje com um enorme legado de continuarmos a fazer o que sempre fez bem. Deixa muitas memórias, muitas boas recordações, muitos ensinamentos e muitas saudades. Foi uma pessoa exemplar e a sua memória viverá para sempre nestas paredes e nestes jardins".
Já em voto de pesar, publicado no seu site e nas redes sociais, a direção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) lamenta a "triste perda de uma das maiores figuras" da Região dos Vinhos Verdes e do vinho português. Assinada por Dora Simões, a nova presidente da CVRVV, e pelos vogais Óscar Meireles e Rui Pinto, a nota de pesar destaca ainda que António Alves Machado Guedes, que esteve à frente dos destinos da Quinta da Aveleda desde o final dos anos 60, foi uma "figura incontornável do progresso e do crescimento da Região dos Vinhos Verdes e da sua expressão em todo o mundo".
A Sociedade Agrícola da Quinta da Aveleda foi fundada, em fevereiro de 1947, mas a propriedade está na posse da família desde o século XVII e foi Manoel Pedro Guedes, em 1870, que iniciou a produção de vinho engarrafado, tendo inclusivamente sido premiado, em 1988, Exposição Universal de Berlim.
António Gil Alves Machado Guedes, hoje falecido, era bisneto de Manoel Pedro Guedes e integrou a direção da empresa após a morte repentina do seu pai, Roberto van Zeller Guedes, em 1966. Começou por ser diretor técnico, enquanto frequentava o serviço militar, e, segundo o site da Aveleda, "viajou pela Argentina, Chile, África do Sul, Califórnia e vários países europeus, nos quais se apercebeu da urgência em transformar os métodos utilizados na viticultura e na necessidade de adaptar a Região dos Vinhos Verdes a novas abordagens e procedimentos", o que levou à conversão de todas as vinhas da empresa à mecanização, com a criação de novas plantações em Meinedo e Mondim de Basto. A Aveleda passou então a trabalhar 170 hectares de vinha.
É ainda sob a sua alçada - trabalhou, primeiro com o seu irmão Luís e, mais tarde, com o irmão Roberto - que a Quinta da Aveleda diversifica a sua ação para fora dos Vinhos Verdes, com a compra da Quinta da Aguieira, em 1999, na Bairrada. Mais importante, foi António Alves Machado Guedes que consolidou a empresa ao iniciar, em 1997 - e após ter recusado, com o apoio do seu irmão Roberto, dois anos anos, a venda da Aveleda à Sogrape, dirigida pelo primo Fernando Guedes -, o processo de compra das ações restantes cinco irmãos e respetivos descendentes.
Hoje, sob a liderança da quinta geração da família, os primos António e Martins Guedes, a Aveleda tem 450 hectares só na Região dos Vinhos Verdes, mas pretende chegar aos 600, e estendeu a sua atividade ainda ao Douro e ao Algarve. Fechou 2021 com vendas históricas de 21,5 milhões de garrafas e com um recorde de faturação de 44 milhões de euros. Exporta 70% do que faz e chega a 70 mercados em todo o mundo. Uma história de sucesso que começa com Casal Garcia, lançado em 1939, mas que hoje se estende a marcas como Adega Velha (aguardentes), Quinta Vale D. Maria (Douro e Porto), Aguieira e Arco (Bairrada) e Villa Alvor (Algarve), entre outras.