A maior unidade de piscicultura da Europa está na costa de Mira. Condições naturais únicas com massagens para reprodutores.
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Quem passa por Mira a caminho da praia não a vê, apesar de ocupar 40 hectares. A "cidade do pregado" da Flatlantic (ex-Aquinova), construída pela Pescanova em 2008, parece escondida para não incomodar os peixes. Renata Serradeiro, CEO da empresa, calcula que sejam "cerca de 1,6 milhões", espalhados por 976 tanques, distribuídos por uma área equivalente a 40 campos de futebol. "Não há na Europa e, que saibamos, no Mundo nenhuma unidade única de piscicultura de pregado com esta dimensão", afirma.
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Mas não é só o tamanho que faz a diferença. "A localização é única porque captamos a água do mar a somente três quilómetros daqui, água com uma qualidade excecional e à temperatura ideal para o pregado, 14 graus. É um cenário de sonho", traça a bióloga.
O resultado traduz-se no "sucesso comercial" desde que um grupo de empresários portugueses pegou na empresa há cinco anos.
Aposta no Linguado
A empresa investiu 20 milhões de euros desde 2017, 7,8 milhões dos quais provenientes de fundos comunitários, justificados com o aumento da produção, modernização e diversidade produtiva. Para além do pregado, a Flatlantic começou a criar linguado. É a nova aposta da empresa, que num prazo de 10 anos pretende criar 10 000 toneladas de linguado e 6000 toneladas de pregado por ano. Hoje produz 3200 toneladas de pregado e 30 de linguado. "O projeto de expansão do linguado, que está em fase de avaliação ambiental, prevê um investimento de 250 milhões de euros ao longo da próxima década", adianta a CEO.
Renata não tem dúvida que o mercado internacional, para onde já vai quase todo o pregado, vai absorver o linguado. "É mais conhecido e difícil de encontrar nos mares. A piscicultura, feita com a qualidade que temos aqui, é a resposta para a escassez de recursos e a um preço mais acessível para os consumidores", acredita.
500 mil ovos por fêmea
No ano passado, a empresa faturou 28 milhões de euros, "ultrapassando as expectativas", num quadro que prevê mais emprego. "Em 2017, tínhamos 110 trabalhadores, hoje temos 170 e nos próximos 10 anos contamos contratar mais 450", quantifica Renata. A maioria são de Mira, mas há cada vez mais de outras zonas. Licenciados vindos das universidades. Como os três biólogos que estão na maternidade.
No tanque dos reprodutores há pregados com cinco quilos, "tratados como reis e rainhas", explica Renata. Uma das fêmeas, pousada numa banca, começa a ser massajada e a receber "festinhas" de um dos biólogos para a acalmar, enquanto outro pressiona lentamente a gónada para lhe retirar os ovos. O processo é rápido para a mãe voltar ao tanque, iluminado como todos com luz azul "para retratar o ambiente natural". De seguida fazem o mesmo ao macho, para lhe retirar o sémen para a fertilização. "Cada reprodutora pode dar de uma só vez até 500 mil ovos", explica a bióloga. É o início de uma vida que, em média, dura dois anos, até o peixe ficar com dois quilos, o peso normal de comercialização.