Todos os meses pagam ao banco a prestação da casa construída há cerca de 12 anos, as duas filhas menores estão em idade escolar, ela está desempregada e ele é pedreiro por conta de outrem. A família Pereira, moradora na pequena freguesia de S. Paio da Portela ouviu ontem, quarta-feira, com muita atenção, a comunicação ao país do primeiro-ministro e as explicações do ministro das Finanças. Se até aqui já havia poucas contas a fazer no seio familiar, ontem os sinais de preocupação aumentaram.
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Laurinda Alves, de 40 anos, vai fazendo uns pequenos serviços na freguesia, desde que ficou desempregada e, como se não bastasse, foi sujeita a uma intervenção cirúrgica que lhe condiciona a procura de um emprego. Aliás, as lides domésticas já lhe ocupam bastante tempo. E mesmo que não tenha muito jeito para contas, as contas da casa são fáceis de fazer: o único salário (modesto) é do marido.
A filha mais nova, Ana Filipa, de sete anos, frequenta o 2.º ano do 1.º ciclo da EB 1 da freguesia e a mais velha, Sara Cristina, de 13 anos, estuda no 8.º ano da EB 2,3 da freguesia vizinha do Pinheiro. "As despesas com os estudos das filhas não são por aí além, mas sempre se gasta dinheiro", confessa. A maior preocupação da família é poupar ao máximo, e, desde que Abílio José Pereira, o marido, ouviu a declaração do chefe do Governo ficou a pensar. "Não percebi muito bem tudo o que foi dito, mas sei que os impostos vão aumentar, e vai haver cortes e redução de salários e pensões", afirmou o chefe de casal.
Não fosse a família Pereira viver numa pequena freguesia rural, e ainda ter o privilégio de colher da terra algum sustento, o orçamento familiar exigiria por certo uma profunda rectificação. "O dinheiro é pouco e a vida está cada vez mais cara. Mas temos de aguentar", diz resignada Laurinda Alves.
